quarta-feira, 9 de outubro de 2019

DISCUSSAO DA DEMOCRACIA SUBSTANTIVA

GESTÃO PARTICIPATIVA (Manual para 2º ano do Curso de psicologia Escolar), Cadeira de Organização e Administração Escolar (ISEDEF), ano lectivo 2019/2020 Docente: Silva Anli Tema 1: O que é gestão participativa? Por que fazer gestão participativa? Gestão participativa. Em um sentido amplo, podemos dizer que gestão participativa são processos de diálogo que procuram incluir todos os sectores e grupos que estão envolvidos em uma questão, seja para compartilhar conhecimentos sobre um tema, seja para a identificação colectiva de desafios, seja para planear acções e tomar decisões colectivamente. Não é um processo essencialmente novo ou “moderno”. Existiram vários povos antigos e existem várias comunidades tradicionais que, em seu dia a dia, praticaram ou ainda praticam “gestão participativa”: grupos, aldeias, cidades pequenas que compartilham conhecimentos e tomam decisões em conjunto, em processos nos quais todos participam. Entretanto, o estudo teórico e o desenvolvimento de metodologias para gestão participativa se desenvolveu no século XX, associado inicialmente a:  Instituições de fomento, extensão técnica (principalmente rural) e apoio internacional – que descobriram que, para apoiar tecnicamente ou financeiramente uma comunidade, precisavam primeiro entender essa comunidade, descobrir suas reais necessidades e qual a melhor maneira de apoiá-los;  E, também administração de empresas – a partir da percepção de que, para o planeamento e a tomada de decisões das empresas, era importante ouvir os empregados que estavam envolvidos directamente com a prática e a execução dos objectivos que seriam definidos. Tais conhecimentos e práticas foram incorporados à actuação de vários movimentos sociais organizados, ONGs e instituições de fomento e assistência técnica, sendo aperfeiçoados e desenvolvidos segundo as diversas necessidades que foram surgindo. E, aos poucos, essa abordagem foi também sendo incorporada à administração pública. No quadro abaixo você conhecerá um pouco mais sobre democracia e participação social: Quais são, então, as formas de participação de um cidadão em uma democracia?  Participação Directa – indicando sua opinião ou preferência a respeito de um assunto.  Participação Indirecta:  Eleição  Negociação entre os pares  Indicação de profissionais, consultores (sectores usuários específicos) Actualmente, os países mais democráticos utilizam um conjunto de processos envolvendo tanto a participação directa quanto a indirecta para garantir atender os anseios de suas sociedades. São processos em permanente evolução, nos quais as melhorias e aperfeiçoamentos se dão apenas com a participação continuada da sociedade, construindo uma cultura política de negociação, representação da diversidade, transparência e acesso às informações necessárias para a tomada de decisões. Considerar o quão democrático é um país depende, portanto, de muitos factores. Veja a seguir uma avaliação dos países do mundo a partir de alguns desses factores. e politica Lembrando que a gestão participativa deve propiciar o diálogo entre os sectores e grupos que estão envolvidos em uma questão. Essas informações podem, então, ser utilizadas, por exemplo:  Por um gestor para a implementação de uma acção;  Para orientar um representante em sua actuação em um parlamento, comité ou conselho; ou, ainda:  Para orientar a própria comunidade em sua actuação directa. Portanto, podemos dizer que as técnicas e ferramentas de gestão participativa podem ser utilizadas para:  Aproximar as pessoas de seus representantes, ou dos gestores responsáveis pela implementação de políticas públicas; e, também  Organizar as pessoas em grupos e comunidades actuantes, permitindo que interesses individuais possam ser conhecidos, articulados e consolidados com vistas a uma actuação colectiva. Em suma, os processos de gestão participativa podem ser factores importantes para o fortalecimento da democracia e para o reconhecimento e atendimento a demandas da sociedade, diminuindo os desequilíbrios entre diversos sectores da sociedade no acesso à informação e na participação da tomada de decisões. Mas, como as pessoas participam? Como esses processos funcionam? Tema 2: Quais são as etapas gerais de um processo de gestão participativa? Quais os níveis de participação? Falamos sempre em processos de gestão participativa, e isso não é por acaso. A participação deve ser entendida como um processo, pois é continuada. Não porque devemos estar o tempo todo envolvidos, mas sim porque ela é parte de uma vivência política e social que não se esgota em um evento ou em um objectivo alcançado. Os objectivos, a forma de actuação e a intensidade de envolvimento podem variar mas, primeiramente, precisamos perceber nossa responsabilidade e também nosso “campo de actuação”, isto é, como podemos incorporar em nossas actividades quotidianas acções que impliquem em melhorias para nós, nosso entorno e nossa comunidade. A participação só acontece quando existe a mobilização das pessoas. E o que é essa mobilização? Mobilização social, segundo Toro A. & Werneck (1997): “A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma praça de concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objectivo comum, buscando, quotidianamente, resultados decididos e desejados por todos. Participar ou não de um processo de mobilização social é um acto de escolha. Por isso se diz convocar, porque a participação é um acto de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada um. Essa decisão depende essencialmente das pessoas se verem ou não como responsáveis e como capazes de provocar e construir mudanças.” “Toda mobilização é mobilização para alguma coisa, para alcançar um objectivo pré-definido, um propósito comum, por isso é um acto de razão. Pressupõe uma convicção colectiva da relevância, um sentido de público, daquilo que convém a todos. Para que ela seja útil a uma sociedade ela tem que estar orientada para a construção de um projecto de futuro. Se o seu propósito é passageiro, converte-se em um evento, uma campanha e não em um processo de mobilização. A mobilização requer uma dedicação contínua e produz resultados quotidianamente.” Mesmo sendo um processo contínuo, quando procuramos mobilizar as pessoas para participar de mudanças colectivas precisamos identificar objectivos e metas alcançáveis. “As pessoas estão dispostas a participar de um processo de mudança... se lhes respondemos a seguinte pergunta: ‘Como eu posso participar, aqui em meu campo de trabalho, no que eu faço todos os dias?’” (Toro & Werneck, 1997). Ainda, segundo os mesmos autores: “a participação é uma aprendizagem. Se conseguimos hoje nos entender, decidir e agir para alcançar alguma coisa (como a melhoria da escola do bairro), depois seremos capazes de construir e viabilizar soluções para outros problemas (como a preservação de uma área verde ou a melhoria do trânsito). Podemos ainda nos articular com outros grupos para desafios maiores, como o fim da violência, o combate ao desemprego etc. Aprendemos a conversar, a decidir e agir colectivamente, ganhamos confiança na nossa capacidade de gerar e viabilizar soluções para nossos problemas, fundamentos para a construção de uma sociedade com identidade e autonomia.” Podemos reconhecer diversos níveis de participação no gráfico abaixo: A partir de Drummond et al., 2009 Informação É o nível mais básico, porém essencial para qualquer participação, no qual um grupo ou comunidade recebe informações sobre um tema e as incorpora a seus conhecimentos pré- existentes. “[...] reconhecemos a mobilização social como um acto de comunicação. A mobilização não se confunde com propaganda ou divulgação, mas exige acções de comunicação no seu sentido amplo, enquanto processo de compartilhamento de discurso, visões e informações. O que dá estabilidade a um processo de mobilização social é saber que o que eu faço e decido, em meu campo de actuação quotidiana, está sendo feito e decidido por outros, em seus próprios campos de actuação, com os mesmos propósitos e sentidos.” (Toro & Werneck, 1997). A informação, portanto, é fundamental para manter a mobilização de um grupo envolvido em um processo de gestão participativa. Em diversas situações, só o facto de um grupo ou comunidade conhecer o que acontece a respeito de um tema já é suficiente para que ela se sinta participando de um processo. Muitas vezes, não é isso que acontece connosco? Acompanhamos um tema de interesse, aguardando o momento em que teremos que intervir, nos manifestar ou fazer algo a respeito. Consulta, o que é? Quando se procura conhecer as opiniões ou posições de um grupo ou comunidade a respeito de um tema ou assunto. Ela também pode acontecer por meio de consulta a grupos, nos quais, em uma construção colectiva, os conhecimentos e opiniões dos participantes são ouvidos, registados e sintetizados. Nesses processos, a informação também é compartilhada entre todos do grupo. Pacificação É o atendimento a demandas específicas ou pontuais de um grupo ou comunidade por uma instituição ou pelo governo. Para que esse atendimento seja efectivo, a pacificação pressupõe que a comunidade tenha tido acesso à informação sobre sua situação e que também tenha havido uma consulta para identificar suas demandas. Frequentemente, vemos situações nas quais o governo ou instituições de fomento anunciam que estão atendendo a demandas de uma comunidade ou de um grupo sem terem realmente consultado os interessados, ou, ainda, consultando apenas parte dos interessados. Nesse caso, podemos dizer que houve uma verdadeira pacificação? Parceria É uma forma de participação mais complexa que a pacificação. Nela, um grupo conhece seus desafios e necessidades (informação), identifica e expõe suas prioridades e demandas (consulta), planeando e executando, em parceria com o governo ou instituições de fomento, as actividades de interesse. Em processos participativos, sempre que há uma relação de parceria vemos uma distribuição de responsabilidades e atribuições. O grupo ou comunidade interessada assume parte do trabalho ou das tarefas a serem realizadas. Você conhece algum exemplo de parceria? Delegação de poder Nessa situação, o grupo ou comunidade se organiza de forma a receber do governo ou instituição de fomento todas as responsabilidades e atribuições para realizar uma actividade de interesse – um projecto, a solução de um problema, a manutenção de um recurso etc. Uma situação dessas pressupõe um alto grau de mobilização e organização de uma comunidade ou grupo, que toma para si atribuições na implementação de projectos ou políticas públicas de seu interesse, recebendo essa delegação do governo ou da instituição originalmente responsável. Você conhece algum exemplo de delegação de poder para a gestão participativa? Controle do cidadão É a actuação directa da sociedade em todas as áreas de interesse colectivo, com grande transparência e acesso a informação, debates e espaços para opiniões e contribuições. Esse controle cidadão pressupõe grande mobilização de todos os sectores da sociedade, participação directa na elaboração das políticas públicas e possibilidade de actuação directa ou, pelo menos, acompanhamento próximo da maioria das acções e projectos públicos e colectivos. Seria uma situação em que a delegação de poder também ocorre em diversos sectores e temas, propiciando uma gestão local de todos os interesses locais. Descrevendo dessa forma, parece uma situação quase impossível, não é mesmo? Entretanto, devemos sempre ter em mente que, mesmo em uma sociedade altamente democrática, ninguém tem como acompanhar e participar de todos os assuntos e temas de governo. O que caracteriza essas sociedades é que o acesso à informação sobre esses assuntos é facilitado e estimulado, sendo que os grupos de interesse em um tema conseguem se organizar e participar de forma efectiva. Atenção senhores estudantes! É muito comum termos algumas situações que se parecem com participação social, mas não são! Acontece em muitas actividades, seminários e outros eventos de consulta ou deliberação colectiva a “terapia”: todos se manifestam, falam bastante, mas as falas se desviam completamente do assunto em pauta, ou geram discussões soltas, que não são encaminhadas para conclusões ou encaminhamentos. Essa ansiedade por falar e se manifestar, mesmo que seja sobre assuntos não relacionados ao que está sendo tratado é, até certo ponto, compreensível e natural, tendo em vista que a oportunidade de participação e manifestação é um processo relativamente novo em nossa sociedade. Temos um passivo enorme de problemas, reclamações e propostas, e pouca experiência no encaminhamento e resolução desses passivos de forma participativa. Entretanto, reconhecendo isso, é preciso “deixar passar” essa ansiedade e saber redireccionar as discussões de volta para o tema de interesse de todos. Se em um grupo percebemos uma insistência de alguns participantes em desviar o assunto tratado, isso pode ser uma tentativa de manipulação. A manipulação também ocorre na tentativa de alguns sectores de um grupo em monopolizar as discussões. Ainda, trata-se também de manipulação aquelas aparentes consultas públicas em que se percebe um direccionamento para uma solução ou resposta já pré definida... A cartilha “Participação e controle social – conceitos e orientações” da Gestão Pública apresenta os diversos instrumentos jurídicos e mecanismos institucionais para a participação social no governo. Muitos desses meios de participação e controle social são desconhecidos da maioria dos cidadãos moçambicanos, e daí a importância de nos mobilizarmos para divulgar esses conhecimentos. Vamos fazer a nossa parte? Revisando o que vimos nessa discussão:  Falamos sobre a importância da mobilização social para os processos participativos;  Vimos que podem existir diversos níveis de participação social e, que cada um deles pode ser adequado nas devidas circunstâncias;  Vimos o que parece ser participação, mas não é;  E conhecemos mais uma referência para sabermos mais sobre instrumentos e mecanismos de participação e controle social em Moçambique. Tema 3: Como podemos trabalhar participativamente em grupos? Como são as técnicas e ferramentas para esse trabalho? Retomando o que trabalhamos nos Temas 1 e 2. Para a gestão participativa, podemos trabalhar colectivamente procurando:  Construir conhecimentos e divulgar informações;  Identificar desafios, demandas e prioridades;  Planear acções, definir atribuições e responsabilidades;  Acompanhar e avaliar projectos, propostas e actividades. Ferramentas participativas Para trabalhar participativamente em grupos, podem ser utilizadas diversas técnicas e ferramentas. Essa escolha e a forma como elas serão utilizadas vai depender de muitos factores…. Ferramentas participativas As ferramentas participativas foram desenvolvidas para propiciar o diálogo entre grupos de pessoas... Atenção estudantes do 2º ano do Curso de Psicologia Escolar! Em breve veremos exemplos dos principais tipos de ferramentas participativas. Mas, antes, é importante vermos como elas surgiram e sabermos mais um pouco sobre os tipos de situação nos quais elas são utilizadas. Como essas ferramentas surgiram: Como vimos logo no início do Tema 1, essas técnicas e ferramentas surgiram principalmente a partir de processos de planeamento participativo ligados a empresas e grandes organizações, bem como também a partir do trabalho de instituições de fomento e extensão técnica, actuando com comunidades rurais e tradicionais. O guia “Ferramentas de Diálogo”, de certos autores e paradigmas, chama a atenção para a importância das ideias do educador escolar, no desenvolvimento dessas “ferramentas de diálogo”. Certas ideias e concepções reforçam a importância da construção colectiva do saber, da contribuição dos diferentes saberes e das diferentes práticas para o debate, para o empoderamento das pessoas e a melhoria de nossa sociedade. Empoderamento, criou-se esse termo em português a partir da palavra inglesa empowerment, que significa “dar poder a alguém para realizar uma tarefa sem precisar da permissão de outras pessoas”. Certas correntes, no entanto, utilizam essa palavra dando ainda mais força ao conceito, pois, para ele a acção é de empoderar-se, na qual a pessoa, o grupo ou a instituição realiza, por si mesma, as mudanças e acções que a levam a evoluir e a se fortalecer. Outros autores, falam, por exemplo, do desenvolvimento do Diagnóstico Rural Participativo - DRP e como, a partir de sua origem em trabalhos no ambiente rural, passou a ser utilizado em diversos processos de reflexão colectiva, em ambientes urbanos ou rurais, em projectos de desenvolvimento local e regional, bem como processos institucionais. Em sua concepção inicial, havia o desafio de representar e registar os diversos aspectos dos conhecimentos e práticas complexos relacionados a sistemas educativos, em uma forma que melhorasse a comunicação entre os envolvidos, pesquisadores e educadores. Fizeram isso desenvolvendo um método de construção participativa utilizando diagramas (Veja sobre diagramas a figura abaixo), com representações simbólicas da realidade vivida. Na vida académica e intelectual, essas ferramentas começaram a ser utilizadas como forma discursiva para detalhes conceituais emergentes. São características importantes de todas essas ferramentas a utilização de diagramas para: Por que procuramos trabalhar dessa forma? Reflicta sobre a pragmática. Procuramos trabalhar com linguagens e materiais mais familiares ao grupo de participantes procurando facilitar o diálogo. Ajuda na participação e na discussão sobre os desafios do grupo, e auxilia na aproximação com suas realidades. É algo importante sempre, mas que ganha um aspecto de extrema relevância trabalhando com comunidades tradicionais. Isso não quer dizer que tenhamos que tentar nos transformar, querendo ser e falar da mesma maneira que cada grupo com o qual trabalhamos. Isso é impossível. O que devemos exercitar é ouvir, ouvir muito. E procurar utilizar no trabalho as referências e elementos trazidos pelo grupo, respeitando a contribuição de seus membros. Escutatória, o que é? Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e subtil... Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas... Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”, (Caeiro, 1977). Daí a dificuldade: a gente não suporta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza nossa se juntam num contraponto. Desenvolvendo processos participativos, queremos ter a maior representatividade possível do grupo ou comunidade com o qual trabalhamos, certo? Isso quer dizer, frequentemente, trabalharmos com pessoas com diferentes níveis de escolaridade, origens, formações e histórias de vida. A utilização de diagramas sintéticos para representar o que está sendo discutido e trabalhado permite que mesmo pessoas com menor nível de alfabetização possam ver os padrões e símbolos utilizados, se enxergando no processo e vendo como as contribuições de todos vão sendo registadas. Tema 4: Algumas ferramentas básicas Principais características, vantagens e limitações Veremos nessa discussão algumas ferramentas, identificando suas principais características, vantagens e limitações. É sempre importante destacar que, trabalhando com processos participativos, precisamos, antes de tudo, ter claros os objectivos e o que queremos com aquele trabalho. Isso vale para a equipa envolvida, os parceiros e todos os participantes. Assim, as ferramentas e técnicas utilizadas são formas de se atingir esses objectivos, que estão integrados em um processo. Podemos entender esses processos como ciclos de planeamento, nos quais, a seguir podemos observar na figura baixo. Uma vez que identificamos o que queremos fazer em um trabalho participativo, tendo definido nossos objectivos, podemos então pensar em como iremos realizar as actividades para atingir esses objectivos. A escolha das ferramentas participativas ocorre nesse momento. A seguir vamos conhecer algumas delas. Linha do tempo (perfil histórico, diagrama histórico) É uma técnica interessante para:  O registo colectivo da história de um grupo, de uma comunidade;  Entender as mudanças ocorridas ao longo do tempo;  Identificar os acontecimentos mais importantes relacionados ao tema discutido;  Relembrar, resgatar a memória do que já foi feito pelo grupo, ou o que já foi feito a respeito de um tema.  Apoiar na investigação, no diagnóstico (identificar o que existe) e monitorar, (acompanhar o que é feito em um projecto).  Planear. A linha do tempo é uma ferramenta que pode ser utilizada tanto para entender a história e os acontecimentos gerais relacionados a um tema ou a um grupo como também identificar mudanças de factores específicos ao longo do tempo, como:  Uso do solo;  Mudanças populacionais;  Níveis de poluição;  Cobertura vegetal;  Disponibilidade de recursos naturais;  Actividades económicas desenvolvidas em uma comunidade;  Histórico do relacionamento da comunidade com o poder público;  Histórico de conflitos e disputas;  Actividades de um projecto – tanto aquelas já realizadas como as que ainda irão ocorrer. O conhecimento da história da comunidade por seus integrantes ajuda na compreensão do presente, no conhecimento das causas que levaram às condições actuais e sobre o que deve ser mudado para a melhoria das situações abordadas. Com a linha do tempo, podemos olhar tanto para o passado, para aquilo que já aconteceu, como também olhar para o futuro, para o que planeamos. DIAGRAMA DE VENN Quando vamos desenvolver qualquer actividade ou vamos analisar uma situação, é importante sempre nos perguntarmos:  Quem deve participar?  Todos que devem participar estão aqui?  Quem está ausente? Por que?  Quem são parceiros e aliados?  Quem são possíveis antagonistas?  Quem está em conflito ou em oposição um com o outro?  Quem pode criar dificuldades para a realização do que se quer fazer? Por que?  Como diminuir ou eliminar essas dificuldades? Portanto, antes de começarmos um trabalho, ou quando vamos iniciar a análise de uma situação, é importante identificarmos os actores que estão ou deveriam estar envolvidos. Actor, nesses casos, significa alguma pessoa, grupo ou instituição que actua (ou, pelo menos, deveria actuar) em uma situação. Diagramas de Venn são utilizados para descrever visualmente as relações entre pessoas, grupos ou instituições com relação a um determinado tema. É um diagrama simples, mas muito útil, pois permite que, em um trabalho colectivo, todos identifiquem:  Quem participa daquele tema  Quem deveria participar mas está ausente  Quais pessoas, grupos ou instituições estão próximas umas das outras, se ajudando ou sendo aliadas  Quais pessoas, grupos ou instituições estão distantes umas das outras, sem parcerias ou até com posições de antagonismo e disputa.  Quem tem mais poder e influência e quem tem menos (com relação ao tema tratado). O trabalho de construção de diagramas de Venn começa com a discussão em grupo. No caso de grupos maiores, é interessante dividir as pessoas em subgrupos, para facilitar a participação de cada um. Em um grupo menor as pessoas ficam mais a vontade para se manifestar. Cada grupo deve escolher um relator, para registar o que for conversado. A divisão em grupos pode seguir várias lógicas: Dividindo por sectores ou áreas de actuação, todos os grupos podem fazer um diagrama sobre o mesmo tema. Se cada grupo é de um sector diferente, teremos diversas visões sobre uma mesma questão e, ao final do trabalho, a apresentação dessas diferentes visões pode gerar discussões interessantes. O mais comum é dividir todos aleatoriamente, misturando em cada subgrupo pessoas de diversas origens. Assim, cada grupo pode fazer o diagrama de Venn sobre um tema mais específico do tema geral. Por exemplo, dentro de um tema geral “Qualidade de educação em Zambézia”, se dividirmos as pessoas em três grupos, um grupo pode fazer a análise dos actores com relação à “Mobilização para combater a corrupção”, outro pode discutir a “Actuação dos membros da direcção provincial de educação na melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem”. O outro grupo, pode, ainda, identificar como cada actor age directamente para diminuir o lançamento de efluentes. Com isso, ao final temos a apresentação de análises de três aspectos de um mesmo problema. É importante, durante a discussão ir registando o que for falado. O grupo pode mudar de ideia, identificar novos actores, rearranjar a posição de cada um deles. ÁRVORE DE PROBLEMAS Diagrama de causa e efeito Quando nos reunimos em grupo com o objectivo de realizar algo, para resolver um problema, superar um desafio, construir algo de interesse de todos, é muito comum já assumirmos que todos já sabem quais são os problemas e exactamente o que precisa ser feito. Normalmente assumimos que todos percebem os mesmos problemas. Com isso, temos a tendência de pular logo para a definição dos objectivos (metas) e das actividades para resolver esses problemas. Mas, muitas vezes, estamos errados... E, normalmente, descobrimos isso da pior maneira possível: ao final do projecto realizado para resolver os problemas, quando percebemos que não conseguimos atingir nossos objectivos – as actividades que realizamos não nos fizeram chegar onde queríamos – ou, ainda, atingimos os objectivos, mas eles não resolveram o problema, não superaram os desafios considerados mais importantes pelos integrantes do grupo. Os objectivos de um projecto surgem dos problemas e desafios que queremos superar. Quanto mais claros para todos quais são os desafios a serem superados, mais precisos e realizáveis serão os objectivos e mais rápido e fácil será o desenvolvimento do projecto. Vale a pena, antes de começar a agir em prol dos interesses de um grupo ou de uma comunidade, investir um tempo maior definindo quais são os reais problemas e desafios percebidos por esse grupo. Uma técnica que pode ajudar chama-se Diagrama de Causa e Efeito. Esses diagramas descrevem relações de causa e efeito entre actividades, acontecimentos, situações. São muito utilizados quando queremos entender a relação entre problemas e desafios a serem apresentados. Nesses casos, esses diagramas são chamados de “Árvores de Problemas”. Por que esses diagramas são chamados de “Árvores de Problemas”? É porque, na identificação de problemas a serem entendidos e resolvidos, é importante identificar aqueles que são os principais – os problemas que geram o maior número de causas e que estejam dentro de nossa governabilidade ou dentro de nossas possibilidades de acção. Quando organizamos os problemas identificados segundo essa lógica, o diagrama lembra uma árvore:  As causas são as raízes – problemas antigos ou geradores dos problemas atuais;  Os problemas principais são o tronco;  Os efeitos ou consequências são os galhos - problemas causados pelos problemas principais. Veja na ilustração a seguir: Por que utilizamos Árvores de Problemas? Ao identificarmos as causas, os problemas principais e os efeitos (ou consequências) de um desafio a ser superado, conseguimos ver quais são aqueles problemas que devemos priorizar. No caso de desafios mais amplos ou complexos, é muito comum não temos recursos ou tempo para resolver todos os problemas relacionados a eles. Por isso, com esse tipo de análise, identificamos qual (ou quais deles) temos condições de resolver, podendo escolher aquele(s) que, uma vez solucionado(s), irá(ão) gerar mais impactos positivos no processo de ensino e aprendizagem. Quer saber como essa técnica surgiu? A Árvore de Problemas é uma técnica utilizada na análise inicial para o desenvolvimento de projectos pelo método ZOPP, utilizado no planeamento participativo. O nome é uma sigla em alemão que significa Zielorientierte Projektplanung (Planeamento de Projecto Orientado por Objectivos). Foi introduzido em 1981 pela Agência Alemã de Cooperação Técnica – GTZ (a sigla é do nome da Agência em alemão, Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit) com bases na metodologia conhecida como LogFRAME (Logical Framework), de origem americana. Sua criação está relacionada a uma mudança de paradigma nos estudos sobre processos de planeamento, que começaram a criticar o facto das acções desenvolvidas ficarem centradas apenas no poder governamental. Nesses casos, principalmente, identificava-se pouca eficiência dos planeamentos, que não atendiam as principais demandas dos interessados, não solucionava problemas e permitia a continuidade de situações de exclusão social. O método estabelece o desenvolvimento social sustentável como foco central dos projectos, o que exige sujeitos activos e actuantes que possam idealizar, executar e monitorar as acções permanentemente, ou seja, autores de um processo e não coadjuvantes. O método ZOPP- Planeamento de Projecto Orientado por Objectivos é utilizado no desenvolvimento de projectos de diversos tamanhos e níveis de complexidade, utilizando diversas outras técnicas e ferramentas nas demais etapas de trabalho. Dentre as diversas ferramentas do método, destacamos aqui em nossa discussão” a Árvore de Problemas” para salientar a importância de se identificar adequadamente os problemas a serem abordados em qualquer actividade participativa democraticamente. E como construímos um diagrama de causa e efeito com um grupo? Para começar, após termos apresentado a forma de trabalho e os objectivos da técnica, realizamos uma “chuva de ideias”:  A partir da situação ou do tema que o grupo quer trabalhar, iniciamos a discussão com perguntas indutoras do tipo “o que causa aquela situação?” e “o que essa situação provoca?”  Pedimos que as pessoas registem suas opiniões e as exponham.  Uma maneira simples de fazer isso é com o uso de papel de cartolina, distribuídas entre os participantes. No início, todos os problemas identificados vão sendo colocados em folhas grandes ou em um painel, para que todos vejam, no (mapa conceptual).  À medida em que as pessoas escrevem nas cartolinas, elas mesmas podem levá-las ou entregar ao moderador para serem fixadas em um painel (com fita crepe na parede/quadro.  É importante que todas as ideias produzidas no grupo possam ser vistas por todos e que sejam registadas de maneira que possam ser mudadas de lugar e reorganizadas ao longo do trabalho.  Sempre uma ideia escrita na cartolina. Podemos inicialmente distribuir uma ou duas cartolinas por pessoa, analisar com o grupo as respostas dadas, organizando ideias parecidas, juntando ideias iguais e incorporando uma ou outra ideia complementar.  Depois, orientamos o grupo para identificar quais problemas são causas ou consequências uns dos outros. Isso pode ser feito aproveitando a imagem da árvore, mostrando as principais causas como raízes, identificando os problemas principais no momento como o tronco e suas consequências como os galhos.  Nesse momento fica evidente o motivo de trabalhar com cartolinas ou outras formas que permitam reorganizar as ideias registadas;  Na discussão com o grupo, vamos rearranjando os problemas no painel, montando um diagrama que começa (normalmente na parte de baixo) com as causas, que originam o problema (ou problemas principais) e chegando nas consequências.  Podemos desenhar uma árvore ilustrativa, mas podemos indicar as causas e consequências simplesmente com setas. Vamos ver um exemplo? Vejamos a discussão sobre problemas no transporte colectivo em uma cidade.Os problemas identificados na chuva de ideias... São complementados e organizados a partir da identificação de causas e consequências e na definição de um problema central (ou problemas centrais). Note como, nessa organização, podem ser identificados problemas que não haviam sido notados antes. Em várias situações, identificamos um único problema central, como nos exemplos abaixo: Mas, em várias situações, a “árvore” na realidade se parece mais como uma “teia”, com mais de um problema central e as causas e consequências conectadas. Mas, o importante é organizarmos as percepções do grupo e identificarmos essas relações de causa e consequência. Esse diagrama nos ajuda a entender a situação-problema de interesse do grupo. Muitas questões que a princípio pensamos ser problemas, na realidade são causas dos verdadeiros problemas. Se tivéssemos tentado resolve-las, é provável que o problema continuasse aparecendo. No exemplo dos problemas do transporte colectivo em uma cidade, identificamos que: Essa percepção, por si só, já é muito útil quando queremos melhorar uma situação. Entretanto, podemos fazer ainda mais. Esse tipo de diagrama nos ajuda a transformar a realidade quando identificamos, em uma segunda etapa do trabalho:  Quais são os problemas que estão dentro da esfera de governabilidade ou intervenção do grupo.  Quais são os problemas que, se resolvidos, tem o potencial de eliminar o maior número de consequências negativas e gerar os maiores impactos positivos.  Quais são os problemas prioritários para o grupo, considerando se são urgentes ou não. Vamos aplicar isso ao nosso exemplo do transporte colectivo? Podemos fazer as seguintes perguntas sobre cada uma das causas (problemas) encontradas para o problema central:  Qual a nossa governabilidade sobre essa questão?  Qual o impacto positivo ao solucioná-la?  Ela é urgente? Podemos encontrar esse tipo de respostas: Analisando esses três aspectos para cada um dos problemas, temos condições de identificar com maior precisão os desafios que devemos enfrentar. Isso nos ajuda a, posteriormente, ao elaborar um projecto ou proposta de intervenção, definir objectivos compatíveis com:  O que o grupo considera prioritário;  E o que o grupo consegue realizar. Como vimos, esse tipo de trabalho utilizando diagramas de relações de causa e efeito, como é o caso da árvore de problemas pode nos ajudar bastante na análise de problemas e no início da elaboração de um projecto. Na maioria das vezes, não temos como resolver todas as questões levantadas, por isso é importante identificar, dentre aquelas que conseguimos realizar, quais são as que terão mais impacto e que são prioritárias. Como vimos também quando falamos sobre a metodologia ZOPP, utilizada pela GTZ ( é fundamental ouvir os grupos que estão envolvidos com o problema e que serão beneficiados pela sua solução. Muitas vezes, as acções mais importantes e urgentes para uma comunidade não são percebidas pelo gestor responsável pelas obras ou actividades. Considerando a tabela mostrada na tela anterior, reflicta: A comunidade quer que sejam iniciadas imediatamente acções para diminuir os acidentes e prejuízos relacionados ao transporte público. Estamos no fim do ano, com recursos limitados (lembre-se: novos recursos só no próximo ano, se os vereadores municipais aprovarem!). MAPEAMENTO PARTICIPATIVO Para que utilizamos mapas? Podemos dizer que mapas são representações visuais simplificadas de elementos (objectos, pessoas, características de relevo, vegetação, construções etc.) estão distribuídos em um espaço, em um território. Por mais complexo que seja um mapa, ele nunca vai representar todas as informações e elementos presentes na realidade do espaço ou território. O objectivo de um mapa é, a partir da realidade (sempre complexa), identificar e representar os aspectos ou elementos de interesse em uma determinada situação. Nos mapas, a representação visual é feita por meio de desenhos e símbolos. Normalmente, o significado dos símbolos é mostrado em uma legenda. Mapas são fundamentais para:  A visualização de informações;  A compreensão de relações;  A percepção de panoramas e cenários;  Que, mostrados de outras formas (descrições, tabelas, gráficos) dificilmente seriam compreendidos. E o que é um mapeamento participativo? É a construção colectiva de informações espaciais, identificando e registando as percepções de um grupo a respeito de um lugar ou território. A visualização, construção ou detalhamento colectivo de mapas, e as discussões que ocorrem nesse processo ajudam na identificação ou reconhecimento de aspectos ambientais, sociais (económicos, políticos) importantes para um grupo a respeito de uma área de interesse. Formas de ocupação e de uso de um território, disputas e conflitos, possibilidades de organização... são alguns exemplos de discussões que podem ser apoiadas pelo mapeamento participativo democrático. Com os mapas, podemos descrever um local ou território:  Como era no passado;  Como está momento actual;  No futuro que queremos;  No futuro que queremos evitar. Dependendo dos materiais disponíveis e da familiaridade das pessoas com a utilização de mapas, um grupo trabalhando com mapeamento participativo pode: A utilização de elementos variados para representar o espaço ou território que está sendo discutido possibilita um envolvimento grande do grupo, que lembra e indica apenas o que é mais significativo. Nesse tipo de actividade, o que nós construímos é um diagrama espacial com objectos diversos representando os elementos físicos e sócio-espaciais de interesse democrático. O mapeamento participativo:  Permite uma visão espacial de locais ou regiões de interesse de um grupo;  Mostra o que o grupo conhece a respeito do local ou região trabalhada, identificando a forma como os participantes vêem o espaço trabalhado e os elementos do território.  É muito utilizado em trabalhos de diagnóstico, na localização de desafios, conflitos e oportunidades.  É útil também no apoio em processos de tomada de decisão como, por exemplo, definição de locais para expansão de uma actividade, organização do trabalho, negociação no uso de áreas sob conflito etc. Exemplo, conflitos de terras. No mapeamento participativo, as conversas, debates e tomadas de decisão ocorrem a partir do que é visto por todos no mapa trabalhado pelo grupo. Por isso, é importante que o moderador garanta a oportunidade para que todos contribuam e participem. Normalmente, se inicia o trabalho definindo a área, local ou região que será representada. A partir dessa definição, o grupo começa a desenhar, marcar em um mapa básico fornecido, ou, ainda, utilizar objectos para representar os elementos desejados. Após uma rodada inicial de trabalho, pode-se passar para as rodadas de discussões e debates. É comum, durante as discussões, o grupo alterar ou complementar o mapa inicial. Por isso, é interessante utilizar materiais móveis ou, no caso de desenhos, canetas ou lápis que possam ser apagados. É importante que todas as pessoas possam ver e participar da actividade. Utilizar mapas prontos, fotos aéreas ou imagens de satélite pode já fornecer boas referências como base para que as pessoas marquem ou indiquem locais, áreas ou pontos geográficos de interesse. Isso é útil em trabalhos que precisam de maior detalhamento espacial, mas pressupõe que o grupo tenha alguma familiaridade com esse tipo de material. Pessoas com menos familiaridade com as convenções e representações utilizadas em mapas podem demorar mais para se localizar e entender como participar. Uma desvantagem na utilização de mapas, imagens de satélite ou fotos aéreas é que eles já “entregam muita coisa pronta” para os participantes. Esses materiais já têm muita informação elaborada, induzindo a percepção da realidade que queremos construir com o grupo. Por outro lado, tem a vantagem de possibilitar registos mais detalhados de informações sobre o território. Com a utilização de materiais diversos na construção ou desenho, a representação espacial é mais subjectiva. Isso pode ser interessante, pois mostra como o grupo vê o espaço trabalhado. Podem surgir muitas discussões e informações interessantes a partir do que foi escolhido pelo grupo para compor o mapa, além de visões diferentes de um mesmo território. No caso desses mapas falados, é importante sempre lembrar os participantes do tamanho do lugar onde será feito o mapa e de sua escala. É comum o grupo começar a representar os elementos de interesse e “faltar espaço”, pois foram colocados muito mais detalhes do que o necessário para a escala pensada inicialmente. Ou, também, “sobrar espaço”, pois ocorreu o oposto da situação anterior, ficando todos os elementos em uma área bem menor que a disponível para o exercício. O moderador deve sempre lembrar e chamar a atenção para evitar isso. O que é escala? Escala cartográfica é a proporção entre o tamanho dos objectos ou distâncias reais e dos desenhos que os representam. Em um mapa, essa informação nos permite identificar o tamanho real medindo o que está desenhado e multiplicando pelo valor dado na escala. As escalas normalmente são informadas em centímetros (cm). Assim, quando um mapa mostra uma escala de 1:1.000.000, por exemplo, significa que cada centímetro no mapa equivale a um milhão de centímetros na área real, ou, 1 cm. Discussões, comentários e observações feitos durante a montagem dos mapas são mais importantes do que o produto final. É importante que os moderadores registem essas observações de maneira organizada e visível para todo o grupo. Além das informações registadas nos mapas, comentários e informações importantes que surgem durante as conversas podem ser anotadas e apresentadas ao mesmo tempo em que a actividade acontece, por meio de um quadro ou projector. Ou, então, podem ser apresentadas logo após a actividade, como parte de uma revisão rápida do que foi falado. É importante ser feito um registo fotográfico ou, pelo menos, um diagrama desenhado do resultado final. O objectivo principal desse tipo de actividade “não é completar o mapa, e sim propiciar a discussão sobre cada componente da realidade” representada. Escolhemos esses exemplos para mostrar que as ferramentas participativas podem trabalhar em cada uma de quatro dimensões importantes para conhecimento e actuação na realidade. Tema 5: Como organizar e orientar os participantes durante as actividades? A metodologia, a facilitação e o facilitador Metodologia Podemos considerar metodologia como o conjunto de métodos, técnicas e ferramentas, que se baseiam em determinados princípios (valores) para atingir certos fins (objectivos) desejados. Quais são os princípios, os valores, nos quais nosso trabalho de gestão participativa se baseia? É importante sempre escrever essa metodologia quando estamos planeando uma actividade ou processo participativo. Isso ajuda a organizar e deixar as ideias mais claras, tanto para nós mesmos quanto para todos os outros envolvidos. Além disso, dessa maneira deixamos um registo do que planeamos, para ajudar depois na avaliação. Com esse registo, temos algo para comparar com o que aconteceu, ver o que funcionou e o que precisa ser modificado. A facilitação e o facilitador Quando estamos organizando e actuando na condução das técnicas e execução das ferramentas participativas, somos facilitadores do processo: Facilitação é fazer com que uma reunião atinja seus objectivos, adoptando-se técnicas e métodos apropriados que contribuam de maneira produtiva para o processo de diálogo e tomada de decisões. Em princípio, qualquer actor tem condições de facilitar a reunião da qual participa. Mas para atingir resultados mais consistentes e realizar as necessárias intervenções no grupo, recomenda-se designar “alguém” especificamente para assumir essa responsabilidade. Esse “alguém” é o facilitador (mediador ou moderador) – de preferência, uma pessoa externa ao processo, homem ou mulher, que não represente nenhuma das partes da negociação – a quem se delega uma certa autoridade no encaminhamento da reunião visando torná-la mais organizada, democrática e eficaz. Adoptar ou não a figura do facilitador numa reunião participativa é uma questão inerente à metodologia e à postura política dos coordenadores do processo: pode significar a garantia de que realmente seja participativo, se assim os coordenadores quiserem. (Bosch, 2002). Planeando uma actividade - Definindo os objectivos O primeiro passo é definir claramente os objectivos que se quer alcançar com a reunião. Metas estabelecidas com precisão facilitam o trabalho dos organizadores, que podem, assim, orientar suas acções nesse sentido. Para tornar mais compreensível o que se quer conseguir, é aconselhável organizar os objectivos em duas categorias: Objectivo geral – o que se pretende atingir na reunião como um todo. Objectivos específicos – resultados pontuais que consolidam ou ampliam o objectivo geral. Exemplo: OBJETIVO GERAL Explicar o processo local do Orçamento Participativo deste ano. Objectivos Específicos Informar os/às participantes sobre o processo do ano anterior e as perspectivas para o ano em curso; Realizar um diagnóstico dos problemas do bairro/região; Preparar as acções locais durante o ano, mobilizando os participantes. Montando a pauta da reunião Para se atingir os objectivos propostos, é interessante termos uma pauta que contemple:  As etapas da reunião e os respectivos temas a serem discutidos.  As perguntas-chave para conduzir o debate.  O tempo estimado ou limite de tempo para cada etapa da reunião. A pauta será o principal “convite à participação” que faremos. Procure sempre montar esse “convite” de maneira clara, objectiva e também instigante, indicando como serão abordados temas de interesse da comunidade que se quer mobilizar. O plano de uma actividade deve proporcionar estrutura e sequência, porém também precisa ser flexível o suficiente para permitir que actividades não planeadas e espontâneas possam surgir no decorrer da actividade. Existem várias maneiras de criar um plano flexível, como por exemplo:  Ter actividades de “reserva” ou “Plano B” já preparadas para alternar com as actividades planeadas ou para acrescentar às mesmas. À medida que a oficina se desenrolar, os facilitadores precisam avaliar constantemente o progresso e o impacto da mesma. Em algumas situações, será necessário adequar ou alterar o formato, dependendo das necessidades dos participantes.  Incluir actividades flexíveis em seu plano. Estas actividades podem ser ampliadas, reduzidas ou eliminadas, dependendo do tempo disponível e da experiência dos participantes. Pare e procure se lembrar de uma reunião ou actividade que você tenha participado recentemente.  Havia uma pauta definida com antecedência?  Os objectivos da reunião eram claros para todos?  Havia alguém coordenando ou facilitando as discussões? Realizando as tarefas Apresentação dos participantes Quanto maior a integração entre os membros de um processo participativo, maiores as chances de:  Promoção de interacção entre os participantes  Percepção da representatividade do grupo  Quebra de formalismo Para tanto, é preciso que os participantes tenham a oportunidade de se conhecer e de saber das potencialidades e dos limites do(s) outro(s). Mesmo em reuniões com um grande número de pessoas, podem-se realizar dinâmicas rápidas de apresentação. Vejamos dois exemplos (Bosch, 2002): Exemplo 1: Os participantes formam duplas ou trios, de preferência, entre pessoas que não se conhecem. Durante um período de tempo determinado pelo coordenador/facilitador (5 a 10 minutos), A entrevista B e vice-versa ou A e B entrevistam C e seguem se revezando. Em seguida, retoma-se a plenária (de preferência em roda) e cada entrevistador apresenta ao público o seu entrevistado. Vantagens desta dinâmica:  Permitir que todos se expressem, dos mais falantes aos mais inibidos.  Promover a interacção dos participantes.  Estimular a percepção em relação ao outro – objecto de sua fala e de seu interesse naquele momento.  Agilizar o tempo, já que cada um tende a ser mais breve quando não fala de si mesmo. Exemplo 2: Em plenária, um coordenador/facilitador pede aos grupos representados na reunião que se manifestem. Conforme cada grupo vai se apresentando, o coordenador/facilitador solicita aos participantes que fazem parte daquela “identidade” para ficarem em pé, de forma que todos possam vê-los. Os grupos podem ser identificados por: região (bairros ou zonas), género, faixa etária, grupo social, tipo de função (servidores, cargos de confiança, sociedade civil etc.) ou qualquer outra forma de identificação sugerida pelos próprios participantes. Vantagens desta dinâmica:  Pode ser feita em pouco tempo com grupos muito grandes  Incentiva o participante a tomar uma atitude afirmativa em relação ao grupo com o qual se identifica  Ressalta a múltipla representatividade dentro do grupo Exemplo 3: A reunião está atrasada? Que tal aproveitar o tempo? É comum as reuniões começarem com um certo atraso. O tempo de espera, por vezes monótono, pode ser uma óptima oportunidade para estimular a interacção informal dos grupos, sejam eles grandes ou pequenos. Veja o que foi feito numa plenária do Conselho da ONP de Cabo-Delgado, onde cada participante que chegava recebia um pequeno papel com a seguinte mensagem: “Vamos nos conhecer? Estaremos nos encontrando com bastante frequência nas próximas semanas e meses. Que tal aproveitarmos para conhecer a diversidade dos participantes e a riqueza de experiências, olhares, opiniões que estão aqui? Que tal investir nossas energias para tornar este processo o mais positivo possível? SUGESTÃO: aproveitar os momentos antes do começo da reunião para conversar com uma pessoa que você ainda não conhece: saber o que faz, descobrir como veio parar ali, quais os seus sonhos ou o que pensa sobre assuntos que são importantes para você!” Nesse dia, antes do início da reunião, os coordenadores solicitaram a três participantes que compartilhassem algo de positivo aprendido na conversa com o outro. Explicando, organizando e conduzindo as actividades É muito importante que todos os participantes entendam bem qual trabalho será realizado e como ele será feito. Explicando a actividade:  Descreva sempre os objectivos específicos da actividade a ser realizada, deixando claro os resultados esperados.  Dê instruções claras para a tarefa, inclusive por escrito.  Informe quanto tempo estará disponível para realizar a actividade.  Proporcione oportunidades para os participantes fazerem perguntas de esclarecimento ou expressar preocupações antes de começarem a actividade. Organizando o formato da actividade: Determine padrões de comunicação e interacção em relação à actividade (individual, em duplas ou em grupos pequenos). No caso de dividir os participantes em duplas ou em grupos pequenos, defina o método de selecção antes de apresentar a actividade. Conduzindo as actividades Durante a realização das actividades, oriente e ajude conforme necessário ou conforme solicitado pelo grupo. É importante monitorar as actividades, sem porém interromper o progresso do grupo. Pode ser necessário que o facilitador:  Providencie recursos adicionais;  Esclareça, respondendo perguntas;  Ajude com a realização da tarefa;  Observe as interacções entre os participantes.  Monitore o tempo. Uma estratégia interessante é escolher, ou pedir que o grupo escolha, uma pessoa que será a representante do grupo para esclarecer de dúvidas, ajudar no controle do tempo, registar as conclusões do grupo, relatar o que foi discutido posteriormente. Em tarefas, ao final de actividades em subgrupos, quase sempre é necessário apresentar os resultados da actividade para o grande grupo. Para isso, pode-se utilizar, dentre outros, um dos seguintes métodos:  O facilitador pede aleatoriamente os comentários ou observações dos participantes.  Cada grupo apresenta uma questão ou aspecto diferente da actividade.  Todos os grupos respondem a mesma questão, complementando a partir das respostas já apresentadas.  Cada grupo apresenta uma só questão ou observação chave.  Cada grupo exibe seus resultados em papel de cartolina no centro de sala e os participantes “visitam” a exibição para ver o que os outros fizeram.  Um relator escolhido previamente apresenta o trabalho de seu grupo. Depois de compartilhar as informações, será necessário trabalhar colectivamente com os participantes para identificar semelhanças, diferenças, questões-chave e encaminhamentos. Estimulando o diálogo Como dissemos no Tema 3, o diálogo bem conduzido gera reflexão e investigação colectivas. Algumas posturas facilitam bastante esse processo:  Escutar com atenção e sem resistência a cada voz e a cada relato.  Não julgar, respeitar pontos de vista e opiniões diferentes.  Rever pressuposições e estar aberto para pontos de vista que não fazem parte de sua visão de mundo.  Reflectir sobre significados compartilhados e o processo como um todo. Estimulando a participação A participação de todos pode ser estimulada, por exemplo:  Utilizando-se actividades variadas e apoiando maneiras diferentes de participação – por exemplo, algumas pessoas se sentem muito mais confortáveis em discussões em pequenos grupos mas nunca se manifestam em um grupo grande; outras, preferem se manifestar por escrito ao invés de falar.  Por meio de perguntas e questionamentos ao grupo.  Oferecer oportunidade de manifestação a todos, em rodadas de fala, por exemplo.  Propondo regras como tempo de fala iguais a todos, e realizando dinâmicas para priorização e organização das manifestações do grupo, utilizando-se, por exemplo, cartolinas para registo sintético do que será falado por cada um. Resumindo e revisando a actividade Ao final de cada actividade, bem como também ao final da oficina, é importante sempre resumir o que foi feito, salientando os principais acontecimentos e resultados. A forma como se resume a actividade dependerá dos objectivos específicos e dos resultados esperados. O resumo final é uma boa forma de se fazer a ligação entre esta experiência e uma actividade anterior, ou entre a experiência e o próximo tópico ou actividade laboratorial, dando uma noção de continuidade ao processo. Avaliação A avaliação é um processo de fundamental importância para a aprendizagem participativa e a construção do conhecimento colectivo. Durante uma actividade ela deve ser conduzida de forma natural e descontraída, envolvendo tanto o facilitador quanto os participantes, de forma que todos possam contribuir. Essas informações servirão de base para o facilitador, após a actividade, medir o impacto das actividades, fazer os ajustes necessários, correcções, verificar acertos e desacertos da proposta e se os objectivos da actividade foram alcançados satisfatoriamente. Durante as actividades, é importante sempre perguntar aos participantes o que estão achando do processo, se entenderam a actividade, pedindo que se manifestem. Formas também importantes de avaliação podem ocorrer também ao final de alguma actividade, em que pedimos que os participantes registem suas opiniões a respeito do que fizeram. Isso pode ser feito com cartolinas e palavras chave, contribuindo para a objectividade das respostas – “O que foi bom?”; “O que pode melhorar?” são perguntas básicas bastante utilizadas. Os facilitadores podem pedir que os participantes dêem uma volta pela sala anotando seus comentários ou respostas a perguntas escritas em papel colado nas paredes. Ou, ainda, podem pedir que os participantes preencham individualmente um questionário de avaliação diário. Outra forma comum de avaliação é, com todos sentados em círculo, pedir que cada um fale rapidamente o que achou do processo. Isso pode ser feito com tempo livre, com tempo marcado para cada um (é sempre importante combinar claramente no início as regras de participação, ressaltando sempre a importância da objectividade e do respeito ao direito de todos à fala). O retorno (feedback) dos participantes é de inestimável valor, independente do método seleccionado para solicitar suas reacções e recomendações sobre conteúdo, processo, formato e actividades significativas da oficina. Actividade de encerramento A actividade de encerramento proporciona a todos a oportunidade de expressar agradecimentos, reflexões e comentários finais. É importante incluir esta actividade como o fechamento de uma experiência intensa de aprendizagem, visto que muitas vezes há sentimentos e significativos que os participantes desejam compartilhar com todos. A intenção é proporcionar um encerramento positivo e de alto astral, a partir do qual os participantes possam ir embora sentindo-se motivados e renovados. Uma reunião participativa requer um compromisso extraordinário de tempo e de energia de todos os participantes e a chave do sucesso é a sinergia e a colaboração. As actividades de encerramento são uma celebração das realizações e das contribuições únicas de cada participante. Em alguns casos, os facilitadores podem conduzir o encerramento e em outros, os próprios participantes podem cuidar desta actividade. O encerramento pode envolver, por exemplo, uma actividade divertida e energética que incentive a expressão de gratidão e valorização do perfil especial do grupo e as contribuições e dons de cada participante. Exemplos de actividades de encerramento envolvem o compartilhamento de poesias e textos, canções ou danças que unem o grupo em uma última actividade com bastante alegria, ou ainda troca de pequenos presentes. Às vezes, os participantes expressam gratidão e reconhecimento de contribuições individuais à experiência em palavras ou através de colagens ou outras expressões artísticas. É importante permitir que o grupo se expresse da forma e com os recursos que quiser, interagindo uns com os outros. Pode-se também aproveitar o momento para fazer a entrega de certificados. Resumindo o que vimos no tema 5 Ao organizarmos e facilitarmos uma participação democrática, é interessante procurar responder as seguintes perguntas:  Estamos zelando pela transparência e pelo diálogo, desde o início da mobilização e preparação?  As informações que serão passadas aos participantes estão bem organizadas?  A linguagem está adequada e compreensível?  É necessária a apresentação dos participantes, e, sendo a resposta afirmativa, temos uma dinâmica adequada para isso?  As perguntas-chave estão bem elaboradas e condizem com os objectivos da reunião?  A metodologia e as ferramentas planeadas são adequadas para organizar as ideias dos participantes de modo eficiente, considerando os objectivos propostos?  O desenho da discussão permite que os participantes tenham o espaço e o tempo apropriados para pensar e se expressar?  Temos uma forma justa e eficiente de organizar a sequência e o tempo das falas?  Estamos preparados para garantir que o tempo da reunião seja respeitado?  Temos materiais adequados para a comunicação do grupo e estamos sabendo aproveitá-los ao máximo?  Temos como avaliar as actividades, tanto durante o processo como no seu final? Tema 6: Dicas para aplicar os conhecimentos, trabalhados e continuar aprendendo Quem empreende esforços nesta difícil tarefa de consolidar a democracia participativa depara-se com o desafio de conciliar a ética democrática com a eficácia das decisões. É preciso provar que a democracia pode funcionar com a participação popular, obtendo resultados concretos e satisfatórios. Além de mais complexas, as decisões participativas demandam muito mais trabalho em reuniões, negociações e organização de processos do que decisões centralizadas e sem participação. Por isso, é muito importante não desperdiçar o tempo e a energia dos participantes nessas reuniões. Nelas, um grande número de pessoas tem de tomar as decisões necessárias para atingir os objectivos estabelecidos em pouco tempo, sem se descuidar da ética. Nesse novo contexto, há que se inventar e reinventar modos de dialogar e decidir em conjunto que dêem conta desses desafios. Ou seja, é preciso que a cultura política dos participantes tenha as qualidades potencializadoras da democracia participativa. São características de uma cultura política emancipatória:  A participação  A transparência  O diálogo vs dialógica  O compartilhamento do poder  A responsabilidade colectiva  A eficácia das decisões Claro que a prática ainda está bem distante desse ideal. A herança de uma cultura política autoritária em nada tem facilitado o processo participativo, uma vez que tornou-se hábito nas pessoas, determinados métodos e atitudes, reproduzidos inconscientemente. Por isso, é tão urgente implementar novos métodos e atitudes afirmativas da ética democrática, participativa e emancipatória: essas inovações funcionam como enzimas, acelerando essa revolução molecular que é a reinvenção de nossa cultura política. A facilitação de processos participativos que aplica novos conhecimentos metodológicos pode vir a ser uma dessas enzimas, incentivando atitudes que aos poucos são incorporadas pelos participantes –e adoptadas em outros espaços das suas vidas. O trabalho de facilitação de grupos tem se expandido por diversos lugares do mundo e também em Moçambique como um eficiente recurso para qualificar a participação. Compartilhar alguns desses conhecimentos é o nosso desejo, sobretudo com os agentes de participação que, a partir daí, podem despertar para a importância desse aspecto central do nosso trabalho –que é a metodologia. Como se sabe, não é nada fácil lidar com conflitos, sobretudo na arena política. Se, além disso, a metodologia adoptada na reunião não for bem formulada e aplicada, acabará naturalmente contribuindo para piorar as desavenças entre os e as participantes. Evidente que a solução de facto nunca estará na metodologia ou no facilitador, mas tanto um quanto o outro podem ajudar a desatar os nós que dificultam o diálogo. A partir daí, possivelmente haverá mais condições para que os mal-entendidos sejam desfeitos e para que se reforcem laços de convergência que dificilmente encontrariam espaço numa reunião “convencional”. Por essas e outras, é que neste momento somos realistas ao afirmar que, em certos casos, a facilitação implica estabelecer alguns limites a certos tipos de atitudes. Também queremos deixar claro que nenhuma metodologia –por melhor que seja –garante a participação efectiva em reuniões se estas não oferecerem ao participante o poder real de influenciar nas decisões ali tomadas. Por fim, queremos lembrar que a eficácia de um processo participativo em muito depende das instituições que lhe dão respaldo político, jurídico, financeiro, humano etc. Chegamos ao final de nosso Modulo, caros estudantes do 2º ano de Psicologia Escolar no ISEDEF! Conforme dissemos no início, esperamos que os temas trabalhados aqui tenham estimulado vocês a actuar em processos de gestão participativa. Essa actuação depende de diversos conhecimentos e habilidades, que vão sendo construídas com a prática e a experiência de cada um. Reconheço aqui as minhas limitações (…), para o desenvolvimento desse tipo de capacidade, mas gostaria de ter contribuído para mostrar:  A importância da participação social na Organização e Administração Escolar ;  Algumas das experiências sócio-democráticas moçambicanas;  E, o potencial das técnicas e ferramentas participativas. Espero também ter estimulado o interesse em continuar estudando e aprendendo sobre o tema. A autonomia, o pensamento crítico e a iniciativa são atitudes fundamentais nos processos participativos. Algumas dicas finais:  Pratique e utilize as técnicas e metodologias mostradas. Comece com grupos menores e temas mais simples e específicos. Essas técnicas podem, por exemplo, ser utilizadas em reuniões com colegas de trabalho ou para discutir e debater algum assunto na escola.  Planifique e registe as etapas e as técnicas a serem utilizadas em uma reuniao.  Não trabalhe sozinho. Sempre realize as actividades de facilitação com a ajuda de outros colegas.  A partir do que for observando na aplicação dessas técnicas, esteja aberto para fazer mudanças e adaptações.  Tenha sempre clareza dos objectivos de uma oficina ou laboratorio e da utilização de uma técnica ou ferramenta.  O que queremos fazer?  Por que?  Onde queremos chegar?  Sempre apresente claramente os objectivos, as regras e o tempo disponível para uma actividade.  Exercite ouvir!  Procure organizar, sintetizar e registar o que for sendo discutido, de forma que o grupo possa ver.  De tempos em tempos, relembre e revise com o grupo essas informações registadas. Isso pode ser feito oralmente ou com a ajuda de um painel, quadro, utilizado para se registar um resumo do que estiver sendo feito pelo grupo.  No trabalho em grupo, é muito importante manter visualmente acessível a todo registo sintético do que for discutido.  A participação pressupõe responsabilidade pelas decisões tomadas. O que é um diagrama? Vemos e utilizamos diagramas todos os dias mas, antes de continuarmos, pare e pense: Quais são as principais características de um diagrama? E podem ser também o que chamamos de “mapas mentais”, organizando ideias e mostrando as relações entre elas. Fontes bibliográficas ABATE, Frank.(1996) The Oxford Dictionary and Thesaurus American Edition. New York, Oxford: Oxford University Press. Inc. BERUBE, Margery S.(2004) The American Heritage Dictionary of the English Language. Boston and New York: Houghton Mifflin Company. FREIRE, Paulo.(1992) Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. SCHIAVO, Márcio R. e MOREIRA, Eliesio N.(2005) Glossário Social. Rio de Janeiro: Comunicarte. Ou: www.dr-anly.blogspot.com “CLUBE DE OPINIÃO CIENTIFICA” dr.anly1962@gmail.com ou 827138340 ou ainda 840279651 Mocambique-Maputo

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