segunda-feira, 3 de agosto de 2020

MANUAL 2 DA CADEIRA DE HISTÓRIA E SISTEMAS DE PSICOLOGIA, PARA O CURSO DE PSICOLOGIA ESCOLAR, 1º ANO. ANO LECTIVO 2020/2021- ISEDEF. DOCENTE: SILVA ANLI; site:dr-anly.blogspot.com “CLUBE DE OPINIÃO CIENTÍFICA”; email:dr.anly1962@gmail.com NOÇÃO DE HISTÓRIA DE PSICOLOGIA A nossa discussão é sobre a história e sistemas da psicologia contemporânea e moderna, aquele período que se inicia no fmal do século XIX, no qual a psicologia se tomou uma disciplina distinta e basicamente experimental. Embora não ignoremos o pensamento filosófico anterior, concentramo-nos nos 05, factores que têm relação directa com o estabelecimento da psicologia como campo de estudo novo e independente. Apresentamos uma história da psicologia contemporranea e moderna, e de toda a obra filosófica que a precedeu. Assim, preferimos narrar a história da psicologia em termos de suas grandes ideias ou escolas de pensamento mais influentes. Ora, desde o começo formal do campo, em 1879, a psicologia tem sido definida de várias maneiras, à medida que novas ideias conseguem o apoio de grande número de seguidores e passam, por algum tempo, a dominar a área de preferencia. Portanto, caros estudantes do 1º ano do Curso de Psicologia Escolar no ISEDEF, o nosso interesse está na sequência progressiva das ideias formuladas para definir o objecto, os métodos e os objectivos garais e especificos da psicologia. Cada uma das escolas de pensamento psicológico é discutida como um movimento que tem origem em seu contexto histórico, (pragmática) e não como uma entidade independente ou isolada. As a forças contextuais, consideradas pelos historiadores contemporâneos a “nova” história, incluem não apenas o espírito intelectual da época, como também factores económicos, políticos e sociais. Embora a nossa discussão esteja organizado em termos das escolas de pensamento, as diferentes definições que marcam a evolução da psicologia, reconheço que essas ideias e abordagens são obra de estudiosos, pesquisadores e sistematizadores profissionais. Pois, eles, são seres humanos, e não forças abstractas, que escrevem os artigos, fazem as pesquisas, apresentam comunicações de pesquisa e ensinam a próxima geração de psicólogos, como o caso da turma A do Curso de Psicologia Escolar no ISEDEF. Fazendo isso, esses homens e mulheres desenvolveram e promoveram as escolas de pensamento da psicologia profissionalmente. Desse modo, discutimos a vida das eminentes personalidades que moldaram o campo, chamando a atenção para o facto de o seu trabalho ter sido influenciado não só pela época em que floresceu como também pelo contexto de suas próprias experiências pessoais. Por fim, discutimos cada escola de pensamento em termos dos seus vínculos com as grandes ideias e teorias que a precederam e seguiram. Descrevemos a maneira pela qual cada escola veio a existir a partir da ordem existente, ou numa revolta contra ela, e como cada uma delas inspirou, por sua vez, pontos de vista que a desafiaram, se opuseram a ela e, eventualmente, a substituiram. Assim sendo, a perspectiva histórica nos permite acompanhar um padrão e perceber uma continuidade de desenvolvimento no campo da psicologia. Caros estudantes, verificamos uma aparente contradição, ao observar que a psicologia é uma das mais antigas disciplinas académicas e, ao mesmo tempo, uma das mais novas. O interesse pela psicologia remonta aos primeiros espíritos questionadores, desde a época pré-Socrática em diante. Sempre tivemos fascínio pelo nosso próprio comportamento, e especulações acerca da natureza e conduta humanas são o tópico de muitas obras filosóficas e teológicas. Já no século V a.C., Platão, Aristóteles e outros sábios gregos se viam às voltas com muitos dos mesmos problemas que hoje ocupam os psicólogos: a memória, a aprendizagem, a motivação, a percepção, a actividade psicomotora, psicossomática e o comportamento anormal. As mesmas espécies de interrogações feitas actualmente sobre a natureza humana também o eram séculos atrás, o que demonstra uma continuidade vital entre o passado e o presente em termos de seu objecto de estudo. Embora os precursores intelectuais da psicologia sejam tão remotos quanto os de qualquer disciplina, a moderna abordagem psicológica teve início há pouco mais de cem anos. Caros estudantes,o centenário de nascimento da psicologia moderna foi comemorado em 1979. A distinção entre a psicologia moderna e seus antecedentes está menos nos tipos de perguntas feitas sobre a natureza humana do que nos métodos empregados na busca das respostas a essas perguntas. O que distingue a disciplina mais antiga da filosofia da psicologia moderna são a abordagem e as técnicas usadas, que denotam a emergência desta última um campo de estudo próprio, essencialmente científico. Até o último quarto do século XIX, os filósofos estudavam a natureza humana através de especulação, a intuição e a generalização baseadas em sua limitada experiência. Sucede transformação no momento em que os filósofos começaram a aplicar os instrumentos e métodos que já tinham se mostrado bem-sucedidos nas ciências físicas e biológicas relativas à natureza humana. Somente quando os pesquisadores passaram considerar a observação e na experimentação cuidadosamente controladas para estudar a mente hunana, a psicologia começou a alcançar urna identidade que a distinguia de suas raízes filosoficas. A nova disciplina da psicologia precisava desenvolver maneiras mais precisas e objectivas de tratar o seu objecto de estudo. Boa parte da história da psicologia, depois de sua seperação coma filosofia, é a história do contínuo aprimoramento instrumental, técnicas e métodos de estudo voltados para alcançar uma precisão e uma objetividade maiores, tanto no âmbito de perguntas como no das respostas. Caros estudantes,se temos a intenção de compreender os complexos tópicos que definem e circunscrevem a psicologia de hoje, o ponto de partida adequado à perspectiva da história do século XIX, o momento em que a psicologia se tomou uma disciplina independente possuindo métodos de pesquisa e raciocínios teóricos característicos. Não podemos negar que os filósofos e estudiosos especularam sobre problemas referentes à natureza humana; de certo o fizeram, “quando examinamos os tópicos que hoje compõem a literatura da psicologia profissional” Somente há cerca de cem anos os psicólogos definiram o objecto de estudo da psicologia e estabeleceram seus fundamentos, confirmando assim sua independência em relação à filosofia. Os primeiros filósofos se preocuparam com problemas que ainda são de interesse mas os abordaram de modos vastamente distintos dos empregados pelos actuais psicólogos. Esses pioneiros não eram psicólogos no sentido contemporâneo do termo, e discutiam suas ideias apenas quando apresentavam uma relação directa com o estabelecimento da psicologia moderna. A ideia de que os métodos das ciências físicas e biológicas poderiam ser aplicadas no estudo de fenómenos mentais foi herdada do pensamento filosófico e das pesquisas filosóficas dos séculos XVII a XIX. Essa época fervilhante constitui o cenário imediato que surgiu a psicologia moderna. Enquanto os filósofos do século passado preparavam o caso para a abordagem experimental do funcionamento da mente, os fisiologistas atacavam pendenternente os mesmos problemas a partir de outra direcção, e davam largos passos à compreensão dos mecanismos corporais que estão na base dos processos mentais. métodos de estudo eram diferentes do procedimento filosófico, mas a eventual união das disciplinas apartadas: “a filosofia e a fisiologia”. Felizmente, a nova psicologia logo conseguiu ali identidade e estatura próprias. O primeiro indício de um campo distinto de pesquisa conhecido como psicologia festou-se no último quarto do século XIX, quando o método científico foi adoptado com recurso para tentar resolver os problemas da psicologia. No decorrer desse período, notamos várias indicações formais de que essa disciplina começava a florescer. Em Dezembro de 1879, em Leipzig, Alemanha, Wilhelm Wundt implantou o primeiro laboratório de psicologia do mundo. Em 1881, fundou a revista Philosophísche Studien (Estudos Filosóficos), considerada a primeira revista de psicologia dedicada primordialmente a relatos experimentais. Em 1887, O. Stanley Hall fundou o Ainerican Journal of Psychology, a primeira revista de psicologia publicada nos Estados Unidos. E, em 1888, a Universidade da Pensilvânia nomeou James McKeen Cattell, um americano que estudara com Wundt, professor de psicologia, a primeira docência em psicologia do mundo. Até então, os psicólogos trabalhavam em departamentos de filosofia. A posição de Cattell fez com que a psicologia fosse reconhecida nos círculos acadêmicos como disciplina independente. Entre 1880 e 1895, ocorreram dramáticas e profundas mudanças na psicologia americana. Durante esse período, foram fundados vinte e seis laboratórios e três revistas de psicologia. A Associação de Psicológica Americana (APA), a primeira organização científica e profissional de psicólogos, foi fundada em 1892. A Associação comemorou seu centenário em 1992, com um número especial da revista Ainerican Psychologist dedicado à história da psicologia. O psicólogo Britânico William McDougall definiu a psicologia, em 1908, como a “ciência do comportamento”, ao que parece pela primeira vez. Dessa forma, por volta do começo do século XX, a psicologia americana conseguia a sua independência em relação à filosofia, desenvolvia laboratórios nos quais aplicava os métodos científicos, formava sua própria associação científica e definia-se formalmente como ciência, “ a ciência do comportamento”. Uma vez estabelecida, a nova disciplina se expandiu com rapidez, em especial nos Estados Unidos de América, que assumiu e mantém uma posição de destaque no mundo psicológico. Actualmente, mais da metade dos psicólogos do mundo trabalham nos Estados Unidos de América, e um grande número de profissionais de outros países teve ao menos uma parte do seu treinamento em instituições americanas. A maioria das publicações psicológicas do mundo vem dos Estados Unidos. A Associação Psicológica Americana, fundada com vinte e seis membros, já incluía mil e cem psicólogos em 1930. Em 1991, o número de associados passava de cem mil. Essa explosão populacional de psicólogos tem convivido com a explosão paralela de informações prestadas por relatórios de pesquisa, artigos teóricos e revisões da literatura, arquivos de dados computadorizados, livros, filmes, fitas de vídeo e outras formas de publica ção. Actualmente, o psicólogo tem cada vez mais dificuldade para manter-se actualizado sobre o desenvolvimento de outras áreas que não a de sua especialização. A psicologia se expandiu não apenas em termos de seus clínicos, pesquisadores, académicos e de sua literatura publicada, mas também em termos do seu impacto na nossa vida cotidiana. Seja qual for a sua idade, ocupação ou os seus interesses, a sua vida é influenciada de alguma maneira pelo trabalho de psicólogos. A Relevância do Passado para o Presente. Dentre todas as ciências, a psicologia é peculiar nesse aspecto. A maioria dos departamentos científicos não tem requisitos semelhantes; muitos não oferecem um curso que apresente a história do seu campo psicológico. Por que os psicólogos têm tanto interesse no desenvolvimento histórico da sua área de actuação? Uma das razões se relaciona com o que afirmamos antes, o facto de há séculos as questões e os problemas de que se ocupa a psicologia vêm atraindo atenção e interesse. Os estudiosos vêm tentando compreender o pensamento e o comportamento desde os primórdios da história registada. Seus esforços têm produzido muitas descobertas, conclusões respeitáveis, bem como imprecisões e mitos. Como dissemos, muitas das investigações feitas nos séculos atrás ainda são relevantes hoje, o que demonstra uma longa continuidade de problemas, embora não de métodos, no âmbito da psicologia, uma continuidade que está presente em outras ciências. Caros estudantes, isso significa que a psicologia tem urna ligação tangível com o seu próprio passado, um vínculo que muitos psicólogos consideram satisfatório e útil explorar. O interesse dos psicólogos pela história do seu campo levou à sua formalização área de estudo contingente. Da mesma maneira como há psicólogos que se especializam em problemas sociais, questões psicofisiológicas, comportamento anormal ou desenvolvimento do adolescente, há também os que se especializam na história da psicologia. Em 1965, foi criada uma revista multidisciplinar, o Jornal of the History of the vioral Sciences, cujo editor era um psicólogo. Nesse mesmo ano, foram fundados os Ar of the Histoiy of Ainerican Psychology, na Universidade de Akron, Ohio, junto dos pesquisadores mediante a reunião e preservação de dados de pesquisa a história da psicologia. Em 1966, foi formada no âmbito da APA a Divisão de História Psicologia (Divisão 26), e, em 1969, foi fundada a International Society for the History Behavioral and Social Sciences (a Chefron Society). Organizações para o estudo da história de psicologia têm sido estabelecidas no Canada, na Grã-Bretanha, na Alemanha e em outros países. Várias universidades oferecem pós-graduação em história da psicologia, e programa de doutorado nessa área na Universidade de New Hampshire. O aumento do número de manuais, monografias, biografias, artigos de revistas, encontros profissionais, obras traduzidas e fontes de pesquisa em arquivo reflecte a importância que os psicólogos atribuem estudo da história da psicologia. Caro estudante, isso tem algum interesse, você pode estar pensando, mas por que tenho que estudar a história da psicologia? Considere o que você aprendeu em outras cadeiras de psicologia: não há uma única forma de abordagem ou definição particulares da psicologia moderna com que concordem todos os psicólogos. Em vez disso, vemos uma enorme diversidade, e até desacordos e fragmentação, tanto em termos de especializações científicas e profissionais como em termos de objecto de estudo. Alguns psicólogos concentram-se em processos cognitivos, outros estão voltados forças inconscientes, e há ainda os que trabalham com o comportamento observável outros ainda em factores fisiológicos e bioquímicos. A psicologia contemporânea abrange muitas áreas pouco parecem ter em comum além de um interesse, expresso em termos amplos, pela conduta humanas e de uma abordagem que tenta, de alguma maneira, ser científica. O eixo de referência que vincula essas áreas e abordagens distintas é a história da evolução da disciplina de psicologia. Somente examinando suas origens e estudando desenvolvimento ao longo do tempo podemos ver com clareza, e no contexto, as diversas formas da psicologia moderna. O conhecimento da história pode trazer ordem e à desordem, produzir sentido a partir do caos; permite enxergar o passado com mais clareza e explicar o presente. Muitos psicólogos acreditam numa técnica que aceita a influência do passado na explicação do presente. Os psicólogos clínicos, por exemplo, tentam compreernder problema dos seus pacientes mediante o exame do passado, das forças e eventos que acreditam tê-los levado a agir ou a pensar de certas maneiras. Compilando histórias de caso, os clínicos que reconstroem a evolução da vida dos pacientes, no processo que, com freqüência, permite explicações de comportamentos actuais. Os psicólogos do comportamento também aceitam a influência do passado na formação do presente; de modo geral, eles acreditam que o comportamento é determinado por experiências precedentes de condicionamento e de reforço, que o erro- estado actual do organismo é explicado pela sua história. O mesmo ocorre com a disciplina da psicologia. O conhecimento da sua história vai ajudá-lo a integrar as áreas e problemáticas que constituem a psicologia moderna. Você poderá reconhecer as relações entre várias ideias, teorias e projectos de pesquisa, bem como compreender a história como elementos distintos da psicologia (e, em alguns casos, aparentemente não relacionados entre si) se tornam compatíveis diante do padrão do seu desenvolvimento histórico. Assim, como poderíamos descrever a história da psicologia como uma história de caso, examinando os eventos e as experiências antecedentes que lhe deram a face que ela tem hoje. Por fim, a história da psicologia é por si só uma narrativa fascinante, à qual não faltam o drama, a tragédia e as idéias revolucionárias. As histórias desses homens e mulheres e de suas crenças oferecem a possibilidade de se avaliar o substancial progresso alcançado em termos de conhecimento e metodologia, no período relativamente curto transcorrido desde que a psicologia se tomou uma disciplina independente. Houve falsos começos, erros e concepções equivocadas, mas, de modo geral, há uma continuidade que moldou a psicologia contemporânea e nos fornece uma explicação da sua actual riqueza e diversidade. Os dados da história — o material que os historiadores usam para reconstruir vidas, eventos e eras, diferem muito dos dados da ciência. A característica mais distintiva dos dados científicos é o modo como são reunidos. Quando os psicólogos desejam descobrir, por exemplo, as condições nas quais algumas pessoas ajudam outras que aparentemente sofrem, ou os modos pelos quais diferentes programas de reforço influenciam o comportamento de animais durante o experimento no laboratório, ou ainda se as crianças imitam ou não o comportamento agressivo que observam em outras pessoas, costumam construir situações ou estabelecer condições a partir das quais sejam gerados dados. Eles podem fazer um experimento de laboratório, observar sistematicamente o comportamento em condições controladas no mundo real, aplicar um lquestionário, ou determinar a correlação entre duas variáveis. Ao usar essas abordagens, os cientistas moldam as situações ou eventos que desejam estudar; as situações e os eventos podem ser reconstruidos ou reproduzidos por outros cientistas que trabalhem em outros lugares em momentos diferentes. Os dados da ciência da psicologia podem ser verificados mediante o estabelecimento de condições semelhantes às do estudo original e a repetição da observação. Os dados da história, contrariamente, não podem ser reconstruídos nem reproduzidos. Cada evento ou situação de interesse aconteceu em algum momento do passado — talvez há a séculos —, e os historiadores da época podem não ter registrado todos os detalhes do evento tal como se desenrolaram. Michael Wertheimer, historiador de psicologia da Universidade de Cobrado, escreveu que “a história é uma questão de tudo ou nada; algo aconteceu um dia e e ponto final — você não pode trazer os eventos passados até o presente para estudá-los, nem ar pode fazer isso à vontade com os seus determinantes e efeitos, dando-lhes esta ou aquela forma, tal como se pode fazer no laboratório com alguma afirmação científica” (Wertheinier, 1979, pp. 29-37). O incidente histórico em si perdeu-se de vista. Como, então, podem os historiadores elabordá-lo? Que dados se podem usar para elaborar um relato a respeito dele? E como poderia alguém nos contar tudo o que aconteceu? Não é porque os historiadores não podem reproduzir uma situação e gerar dados pertinentes não existem. Os dados da história e à nossa disposição na forma de fragmentos de eventos passados, tais como descrições por participantes ou testemunhas, cartas e diários, ou relatos oficiais. É a partir desses dados que os historiadores tentam recriar os eventos e as pessoas do passado. A abordagem histórica da psicologia é semelhante à dos arqueólogos que, trabalham com fragmentos de civilizações passadas — tais como pontas de flecha, vasos quebrado ossos humanos —, tentam descrever as características dessas civilizações. Algumas escavações arqueológicas geram dados mais completos (mais fragmentos) do que outras, permite reconstruções mais precisas. Do mesmo modo, no caso das escavações históricas, a quantidade de dados pode ser grande o bastante para deixar poucas dúvidas sobre a precisão da reconstrução. Às vezes, os dados históricos são incompletos. Eles podem ter sido deliberadamente suprimidos, distorcidos por um participante ou um pesquisador motivado por interesses pessoais, ou traduzir de maneira imprecisa. A história da psicologia existe muitos exemplos incompletos ou, talvez, imprecisos de produção da verdade histórica. Podemos dar exemplo dos documentos pessoais terem ficado perdidos durante décadas antes de serem descobertos. 1984, uma extensa colecção de documentos de Hermann Ebbinghaus, que se destacou nos estudos da aprendizagem e da memória, foi descoberta, cerca de setenta e cinco anos depois da sua morte. Em 1983, foram descobertas dez grandes caixas contendo os diários manuscritos de Gustav Fechner, o cientista que desenvolveu a psicofísica. Esses diários referiam-se período de 1828 a 1879, época de grande significação na história inicial da psicologia. Contudo, por mais de cem anos, os psicólogos não sabiam da existência desses diários. Alguns não tiveram acesso a essas importantes colecções de documentos que os outros haviam escrito sobre esses pesquisadores e sobre a sua obra. A descoberta desses novos fragmentos de história de psicologia representa a possibilidade de encaixar mais peças no quebra-cabeças. Outros dados podem ser deliberadamente ocultados do público ou modificado para proteger a imagem ou a reputação da pessoa envolvida. Outro problema que afeta os dados da história vincula-se às informações que chegam de forma distorcida ao historiador. Nesses casos, os dados estão disponíveis, mas foram mudados de alguma maneira, talvez devido a uma tradução errada ou a distorções introduzidas por um participante no registro de suas próprias actividades. Caros estudantes do 1º ano do curso de psicologia escolar entremos agora na questão DAS FORÇAS CONTEXTUAIS DA HISTÓRIA DE PSICOLOGIA A psicologia não se desenvolveu no vácuo, sujeita apenas a influências interiores. Ela é parte da cultura mais ampla em que funciona, estando portanto exposta a influências externas que moldam a sua natureza e a sua direcção de maneiras significativas. Uma compreensão adequada da história da psicologia tem de considerar o contexto em que a disciplina surgiu e se desenvolveu “as forças sociais”, econômicas e políticas que caracterizam diferentes épocas e lugares. Mencionemos brevemente aqui o impacto de três dessas forças: oportunidades económicas, guerras e discriminação. Nos primeiros anos do século XX, a natureza da psicologia americana e o tipo de trabalho que muitos psicólogos faziam sofreram uma drástica mudança, basicamente como resultado de oportunidades económicas. O foco da psicologia americana passou da pesquisa pura do laboratório universitário para a aplicação do conhecimento e das técnicas psicológicas a problemas do mundo real. A explicação essencial dessa mudança foi prática. Como disse um psicólogo, “tornei-me psicólogo aplicado para ganhar a vida” (O’Donnell, 1985, p. 225). Embora o número de laboratórios de psicologia nos Estados Unidos estivesse crescendo consistentemente perto do final do século XIX, aumentava também o número de psicólogos com doutoramento (Ph.D.), competindo por empregos nesses laboratórios. Na virada do século, havia três vezes mais psicólogos nos Estados Unidos do que laboratórios de pesquisa em que a eles pudessem encontrar colocação. Felizmente, mais cargos docentes vinham se tomando disponíveis nas instituições estaduais criadas no Meio-Oeste e no Oeste; mas, na maioria dessas universidades, a psicologia, na qualidade de ciência mais nova, recebia a menor parcela dos recursos financeiros. Em comparação com outras disciplinas mais antigas, a psicologia sempre ficava em último lugar nas alocações anuais; havia pouco dinheiro para projectos de pesquisa, equipamentos de laboratório e salários de professores. Os psicólogos logo perceberam que, se desejassem que um dia seus departamentos académicos, orçamentos e rendas crescessem, teriam de demonstrar aos administradores universitários e aos legisladores que votavam as alocações de recursos a utilidade que a psicologia poderia ter na solução de problemas sociais, educacionais e industriais. Desse modo, com o tempo, os departamentos de psicologia passaram a ser julgados com base no seu valor prático. Ao mesmo tempo, como decorrência do facto de uma nova e importante força social estar varrendo os Estados Unidos, apresentou-se uma atraente oportunidade de aplicação da psicologia a um problema prático. Devido ao influxo de imigrantes para os Estados Unidos perto da virada do século, e à sua alta taxa de natalidade, a educação pública tornara-se uma indústria em crescimento. Entre 1890 e 1918, as matriculas em escolas públicas tiveram um aumento de 700%, sendo construídas em todo o país novas escolas públicas à proporção de uma por dia. Gastou-se na época mais dinheiro em educação do que nos programas militar e de bem-estar social juntos. Muitos psicólogos aproveitaram essa situação e buscaram maneiras de aplicar o seu conhecimento e os seus métodos de pesquisa à educação. Esse foi o começo de uma rápida mudança de ênfase na psicologia americana, do “experimentalismo do laboratório académico para a aplicação da psicologia à aprendizagem, ao ensino e a outras questões práticas de sala de aula”. As guerras foram outra força contextual que ajudou a moldar a psicologia. As experiências de psicólogos que colaboraram com o esforço de guerra dos Estados Unidos na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais aceleraram o desenvolvimento da psicologia aplicada e estenderam a sua influência a sectores como a selecção de pessoal, os testes e a engenharia psicológica. Esse trabalho demonstrou à comunidade psicológica, bem como ao público mais amplo, quão útil podia ser a psicologia na resolução de problemas da vida cotidiana. A Segunda Guerra Mundial também modificou a face e o destino da psicologia na Europa, particularmente na Alemanha, onde nasceu a psicologia experimental, e na Áustria, berço da psicanálise. Muitos psicólogos destacados fugiram da ameaça nazista nos anos 30, e a maioria deles foi para os Estados Unidos. O exílio e a emigração abruptos e forçados marcaram a fase fmal da mudança do domínio da psicologia do Velho para o Novo Mundo. A guerra influenciou as posições teóricas de psicólogos individuais. Depois de testemunharem a carnificina da Primeira Guerra, Sigmund Freud foi levado a propor a agressão como uma força motivadora tão importante para a vida humana quanto o sexo, o que representou uma enorme mudança em seu sistema da psicanálise. Erich Fromm atribuiu seu interesse pelo estudo do comportamento irracional e anormal ao facto de ter observado o fanatismo que tomou conta da sua Alemanha natal durante a Primeira Guerra Mundial. Um terceiro factor contextual são a discriminação e o preconceito, que por muitos anos determinaram quem podia tornar-se psicólogo e onde cada profissional poderia trabalhar. Durante décadas, os afro-americanos foram amplamente excluídos da psicologia e da maioria dos campos que exigiam estudos acadêmicos avançados. Até a década de 40, apenas quatro universidades para negros dos Estados Unidos ofereciam graduação em psicologia, e poucas universidades admitiam homens e mulheres negros como alunos de pós-graduação. Entre 1920 e 1966, os dez mais prestigiosos departamentos de psicologia americanos concederam somente oito títulos de doutor a afro-americanos; nesses mesmos anos, quase quatro mil doutorados foram concedidos a brancos (Guthrie, 1976). Os judeus também foram vítimas de discriminação, especialmente na primeira metade da história da psicologia. O fmal dos anos 1800 testemunhou a fundação da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, e da Universidade Clark em Worcester, Massachusetts, importantes instituições nos primórdios da história da psicologia. Sua política geral era excluir professores judeus do corpo docente. E, mesmo na segunda metade do século XX, judeus e judias ainda enfrentavam cotas de admissão na maioria das faculdades. Os que conseguiam o doutorado encontravam dificuldades para obter empregos acadêmicos. Julian Rotter, hoje único importante teórico da personalidade, disse que, quando recebeu seu Ph.D., em 1941, “fora alertado para o facto de que os judeus simplesmente não podiam conseguir empregos acadêmicos, pouco importando as suas credenciais” (Rotter, 1982, p. 346). Como muitos outros psicólogos judeus da época, Rotter começou sua carreira profissional como empregado de um hospital público de doenças mentais, e não de uma universidade. Um extenso preconceito contra as mulheres tem se manifestado ao longo de quase toda história da psicologia. Veremos nesta discussão exemplos de mulheres que tiveram negado se ingressar em programas de pós-graduação ou foram excluídas de posições docentes. Mesmo quando conseguiam esses cargos, as mulheres recebiam salários menores, e enfrentavam barreiras à promoção e a cargos de chefia. Sandra Scarr, psicóloga do desenvolvimento professora da Universidade da Virgínia, relembra sua entrevista de admissão à Universidade Harvard em 1960. Ela ouviu de Gordon Allport, um eminente psicólogo social, que “odiamos aceitar mulheres aqui. Setenta e cinco por cento de vocês se casam, têm filhos nunca acabam o curso, e o resto, de qualquer maneira, nunca consegue nada mesmo” (Scan 1987, p. 26). Esses e outros exemplos citados adiante mostram o impacto de forças econômicas políticas e sociais sobre o desenvolvimento da psicologia moderna, A história da psicologia ficou moldada não apenas pelas ideias, teorias e pesquisas de seus grandes líderes, mas também po influências externas, forças contextuais” sobre as quais teve pouco controle. Vejamos agopra as Concepções da História Científica: Personalista e Naturalista Duas abordagens podem ser adoptadas para explicar como a ciência psicológica se desenvolveu: a teoria personalista e a teoria naturalista. A teoria personalista da história científica concentra-se nas realizações e contribuições monumentais de certos indivíduos. Nos termos dessa concepção, o progresso e a mudança são directamente atribuíveis à vontade e à força de pessoas ímpares que mapearam e modificaram o curso da história. Um Napoleão, um Hitler ou um Darwin foram, assim diz essa teoria, forças motrizes e plasmadoras de grandes eventos. A teoria personalista afirma implicitamente que eventos particulares não teriam ocorrido sem a participação dessas figuras singulares. Ela diz, na verdade, que a pessoa faz a época. À primeira vista, parece evidente que a ciência é de facto a obra de homens e mulheres criativos, talentosos e inteligentes que deteminaram a sua direcção. Costumamos defmir uma época pelo nome da pessoa cujas descobertas, teorias ou outras contribuições marcaram o período. Falamos da física depois de Einstein”, da escultura ‘depois de Michelangelo” e da psicologia “depois de Watson”. É óbvio, tanto na ciência como na cultura em geral, que individuos produziram mudanças dramáticas, e às vezes traumáticas, que alteraram o curso da história. Basta pensar em Sigmund Freud para reconhecer a verdade disso. Por conseguinte, a teoria personalista tem méritos, mas nem por isso é suficiente para explicar o desenvolvimento de uma ciência ou de uma sociedade. A obra de cientistas, filósofos e eruditos é muitas vezes ignorada ou negada num dado período de tempo, apenas para ser reconhecida bem depois. Essas ocorrências implicam que a época determina se uma ideia vai ser seguida ou desdenhada, louvada ou esquecida. A história da ciência está repleta de exemplos de rejeição a novas descobertas e percepções. Mesmo os maiores intelectos, talvez especialmente os maiores intelectos foram constrangidos por um factor contextual , o espírito ou clima intelectual de uma época. A aceitação e aplicação de uma descoberta pode ser limitada pelo padrão dominante de pensamento de uma cultura, de uma região ou de uma época, mas uma ideia demasiado nova para ser aceita num período pode sê-lo prontamente uma geração ou um século depois. A mudança lenta parece ser a regra do progresso científico. Assim sendo, a noção de que a pessoa faz a época não é inteiramente correcta. Talvez, como diria a teoria naturalista da história científica, a época faça a pessoa, ou ao menos possibilite o reconhecimento daquilo que uma pessoa tenha a dizer. A não ser que esteja pronto para a ideia nova, o seu proponente pode não ser ouvido; pode ser alvo de zombaria ou mesmo de condenação à morte. Isso também depende do tipo de ideias. A teoria naturalista sugere, por exemplo, se Darwin tivesse morrido na juventude, ainda assim uma teoria da evolução teria sido formulada na metade do século XIX. Alguma outra pessoa a teria proposto, porque estava pedindo uma nova maneira de considerar a origem da espécie humana. A capacidade inibidora ou retardadora opera não somente no nível da cultura, mas também no âmbito da própria ciência, onde os seus efeitos podem ser ainda mais pronunciados. Muitas descobertas científicas permaneceram adormecidas por um longo tempo, sendo então redescobertas e acolhidas. O conceito da resposta condicionada foi sugerido por Robert Whytt, um cientista escocês, em 1763, mas ninguém estava interessado nisso na época. Mais de um século depois, quando os pesquisadores do campo da psicologia estavam adoptando métodos mais objectivos, o fisiologista russo Ivan Pavlov reelaborou as observações de Whytt e as ampliou, tornando-as a base de um novo sistema de psicologia. Uma descoberta tem com freqüência de esperar a sua época. “Não há muitas coisas novas neste mundo”, observou psicólogo, “e certamente não há muita coisa nova acerca da natureza psicológica dos seres humanos. O que passa actualmente por descoberta tende a ser a redescoberta, por um dado cientista, de algum fenómeno já bem estabelecido” (Gazzaniga, 1988, p. 231). Exemplos de descobertas simultâneas independentes também sustentam a teoria naturalista da história. Descobertas semelhantes têm sido feitas por pessoas que trabalham bem distantes em termos geográficos, muitas vezes sem que uma conheça o trabalho da outra. Em 1900, três pesguisadores que não se conheciam redescobriram coincidentemente o trabalho do botânico austríaco Gregor Mendel, cujos escritos sobre a genética vinham sendo amplamente ignorados há trinta e cinco anos. Posições teóricas populares e correntes num campo científico costumam obstruir ou interditar a consideração de novos pontos de vista. Uma teoria pode dominar uma disciplina a tal ponto que as pesquisas de um novo método ou linha de investigação ficam impossibilitadas. Uma teoria consagrada também pode determinar os modos pelos quais fenómenos ou dados são organizados e examinados, o que pode evitar que cientistas considerem os dados a partir de outras perspectivas: “É a teoria”, disse Albert Einstein, “que determina o que podemos observar” (Broad e Wade, 1982, p. 138). Além disso, uma teoria dominante pode determinar o tipo de resultados de pesquisas que são publicados nas revistas científicas. Descobertas que contradigam as visões prevalecentes ou se oponham a elas podem ser rejeitadas pelos editores das revistas, que, inadvertida ou deliberadamente, funcionam, nesses casos, como censores. Eles podem fazer prevalecer a conformidade ao recusar ou trivializar uma ideia revolucionária ou uma interpretação incomum. Um exemplo disso ocorreu na década de 70, quando o psicólogo John Garcia tentou publicar os resultados de uma pesquisa que desafiava a teoria E—R (estímulo—resposta) da aprendizagem vigente (Lubek e Apfelbaum, 1987). As revistas da corrente dominante se recusaram a aceitar os artigos de Garcia, embora o trabalho fosse considerado bem feito e já tivesse recebido reconhecimento profissional e prestigiosos prémios. Ele terminou por publicar suas descobertas em revistas menos conhecidas, de menor circulação, o que retardou a disseminação de suas ideias junto a um público mais amplo. O âmbito de uma ciência pode ter um efeito inibidor sobre os métodos de investigação, as formulações teóricas e a definição do objecto de estudo da disciplina. Mesmo quando os seus métodos se tomam mais objectivos e precisos, o foco de estudo da psicologia continuou a ser subjectivo. A psicologia teria de esperar a década de 20 para finalmente mudar de direcção. Contudo, meio século mais tarde, sob o impacto de um distinto, a psicologia começou a retomar a consciência como foco de estudo, respondendo continuamente ao clima intelectual em mutação da época. É fácil compreender essa situação a partir de uma analogia com a evolução de uma espécie viva. Tanto uma ciência como uma espécie viva mudam ou evoluem em resposta à condições e exigências do ambiente. O que acontece com uma espécie ao longo do tempo. Muito pouco, enquanto o seu ambiente permanece essencialmente constante. Quando o ambiente muda, no entanto, a espécie deve adaptar-se às novas condições ou enfrentar a possibilidade de extinção. Suponha que o clima tenha ficado significativamente mais frio ou que as águas costeiras tenham ficado estéreis. Para sobreviver, os animais das áreas afectadas têm de alterar suas formas. Uma espécie sem pêlos, por exemplo, precisará desenvolvê-los para enfrentar temperaturas mais frias; uma espécie de pernas curtas precisará tornar-se uma espécie de perna longas se o alimento antes disponível em águas rasas só for encontrado em águas mais fundas. Algumas espécies não se adaptaram às mudanças ambientais, e a ciência só conhece seus vestígios históricos. Outras modificaram sua forma de alguma maneira, mantendo porém características básicas; nesses casos, as formas mais novas revelam claramente seu vínculo com as mais antigas. Outras ainda se modificam tão radicalmente que se tornam novas espécies, e sua relação com os predecessores não é tão evidente. Por mais branda ou extrema que seja a alteração, o importante é que as espécies vivas podem adaptar-se às exigências ambientais. Quanto mais o ambiente muda, tanto mais a espécie deve transformar-se. Consideremos o paralelo com a evolução de uma ciência. Esta última também existe no contexto de um ambiente ao qual deve reagir. O ambiente de uma ciência, não é tanto físico quanto intelectual. Mas, tal como o ambiente físico, está sujeito a mudanças. O clima intelectual que caracteriza uma geração ou século pode ser totalmente diferente na seguinte. Isso ocorreu, por exemplo, quando a crença em Deus e nos ensinamentos da Igreja estabelecida como fonte de todo conhecimento humano foi substituida pela crença na razão e na ciência. Esse processo evolutivo marca toda a história da psicologia. Quando favorecia a especulação, a meditação e a intuição como caminhos para a verdade, a psicologia também dava preferência a esses métodos. Quando o espírito da época ditava uma abordagem observacional e experimental da verdade, os métodos da psicologia seguiam essa direcção. Quando uma forma de psicologia se encontrava em dois climas intelectuais diferentes, ela se tornava duas espécies de psicologia; quando a forma alemã inicial de psicologia emigrou para os Estados Unidos, foi modificada para tornar-se uma psicologia peculiarmente americana, enquanto a psicologia que permaneceu na Alemanha teve uma evolução distinta. A nossa ênfase não nega a importância dos grandes homens e mulheres da história da ciência; contudo, ela nos impõe considerá-los numa perspectiva diferente. Um Copérnico ou uma Marie Curie não modificam sozinhos o curso da história pela pura força do seu gênio. O sujeito faz isso apenas porque o caminho já está limpo. Veremos que isso se aplica a todas as grandes figuras da história da psicologia. Assim, parece claro que, embora a evolução da psicologia deva ser considerada em termos das teorias personalista e naturalista da história, parece ter o papel mais importante. Por mais valiosas que suas contribuições sejam consideradas hoje, se as figuras significativas da história e da ciência tivessem tido ideias demasiado distantes do clima intelectual de sua época, suas percepções teriam desaparecido na obscuridade. O trabalho criativo individual se parece mais com um prisma que difunde, elabora e magnifica o espírito da época, do que com um farol, embora um e outro lancem luz no caminho à frente. Caros estudantes do 1º ano do curso de psicologia escolar- ISEDEF, vejamos agora as Escolas de Pensamento: Marcos do Desenvolvimento da Psicologia Moderna. Nos primeiros anos da evolução da psicologia como disciplina científica distinta, no último quarto do século XIX, a direcção da nova psicologia foi profundamente influenciada por Wilhelm Wundt, que tinha ideias definidas sobre a forma que essa nova ciência, sua nova ciência deveria tomar. Ele determinou o objecto de estudo, o método de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objectivos da nova ciência. Ele foi, é claro, afectado pelo espírito de sua época e pelo pensamento então vigente na filosofia e na fisiologia. Não obstante, foi Wundt, em seu papel de agente de uma época, que reuniu as várias linhas de pensamento. Mediante a força de sua personalidade e de sua intensa actividade de escrita e pesquisa, ele moldou a nova psicologia. Por ser um influente promotor do inevitável, a psicologia foi por algum tempo feita à sua imagem. Mas a situação logo mudou. Instalou-se a controvérsia entre os cada vez mais numerosos psicólogos. As novas ideias eram formuladas em outras ciências e na cultura em geral. Alguns psicólogos, reflectindo essas novas correntes de pensamento, passaram a discordar da versão de psicologia de Wundt e propuseram suas próprias concepções. Na virada do século, coexistiam várias posições sistemáticas ou escolas de pensamento, que eram, essencialmente, definições diferentes da natureza da psicologia. O termo escola de pensamento refere-se a um grupo de psicólogos que se associam ideológica e, às vezes, geograficamente ao líder de um movimento. Em geral, os membros de urna escola trabalham em problemas comuns e compartilham uma orientação teórica ou sistemática. O surgimento de escolas de pensamento diferentes, e por vezes simultâneas, e o seu subsequente declínio e substituição por outras são urna das características mais marcantes da história da psicologia. O estágio do desenvolvimento de uma ciência em que ela ainda se acha dividida em escolas de pensamento tem sido denominado estágio pré-paradigmático. (Um paradigma — um modelo ou padrão — tem sido descrito nesse contexto como um modo reconhecido de pensar, no âmbito de uma disciplina científica, que fornece, por algum tempo, as perguntas e respostas essenciais aos pesquisadores do campo em questão.) O estágio mais maduro ou avançado do desenvolvimento de uma ciência é alcançado quando ela já não se caracteriza por escolas de pensamento, ou seja, quando a maioria dos membros dessa disciplina chega a um consenso acerca de questões teóricas e metodológicas. Nesse estágio, um paradigma ou modelo comum define todo o campo, e deixam de haver facções concorrentes. Na história da física, podemos ver paradigmas em ação. O conceito galileu-newtoniano de mecanismo foi aceito pelos físicos por cerca de trezentos anos; no decorrer desse período, quase todos os trabalhos nesse campo foram realizados a partir desse referencial. Mas os paradigmas não são invioláveis. Eles podem mudar, e de facto mudam, assim que a maioria dos membros da disciplina aceita urna nova maneira de organizar o objecto de estudo ou de trabalhar com ele. Na física isso ocorreu quando o modelo em questão foi substituído pelo modelo einsteiniano. O eminente historiador da ciência Thomas Kuhn deu a esse processo de substituição de paradigmas o nome de revolução científica (Kuhn, 1970). A psicologia ainda não atingiu o estágio paradigmático. Durante os mais de cem anos de sua história, ela tem buscado, acolhido e rejeitado diferentes definições, mas nenhum sistema ou ponto de vista individual conseguiu unificar as várias posições. O psicólogo cognitivista George Miller comentou que “nenhum método ou técnica-padrão integra o campo. Nem parece haver algum princípio científico fundamental comparável às leis do movimento de Newton, ou à teoria da evolução de Darwin” (Miller, 1985, p. 42). O campo permanece especializado, e cada grupo adere à sua própria orientação teórica e metodológica, abordando o estudo da natureza humana a partir de diferentes técnicas, e promovendo a si mesmo com jargões e revistas diferentes, e com todos os outros adereços de uma escola de pensamento. As primeiras escolas de pensamento no campo da psicologia foram movimentos de protesto, até revolucionários, contra a posição sistemática prevalecente. Cada escola assinalou o que considerava as limitações e falhas do sistema mais antigo e ofereceu novas definições, conceitos e estratégias de pesquisa para corrigir as fraquezas percebidas. Quando uma nova escola de pensamento atraía a atenção da comunidade científica, produzia-se a rejeição do ponto de vista antes festejado. Esses conflitos intelectuais entre posições antigas e novas, incompatíveis entre si, eram travados com ardorosa tenacidade por ambos os lados. Muitas vezes, os líderes de uma escola anterior não se convertem por inteiro à nova escola de pensamento. Em geral mais velhos, esses psicólogos estão por demais comprometidos, intelectual e emocionalmente, com a sua posição, para mudar. Muitos dos seguidores mais jovens e menos comprometidos passam a apoiar a nova posição, deixando os outros apegados às suas tradições e trabalhando num isolamento cada vez maior. O físico Max Planck escreveu que “uma nova verdade científica não triunfa por convencer seus opositores e fazê-los ver a luz, mas sim porque estes terminam por morrer, e uma nova geração vai crescendo familiarizada com ela” (Planck, 1949, p. 33). “Como seria bom”, escreveu Charles Darwin a um amigo, “se todo homem de ciência morresse aos sessenta anos, já que, depois disso, ele com certeza se opõe a todas as novas doutrinas” (Boorstin, 1983, p. 468). No curso da história da psicologia, desenvolveram-se diferentes escolas de pensamento, sendo cada qual um protesto efectivo contra o que a precedia. Toda nova escola usa um modelo mais antigo como base contra a qual se opor e a partir da qual ganhar impulso. Cada posição proclama, em altos brados, o que não é e como difere do teórico sistema antigo. À medida que se desenvolve e obtém seguidores e influência, o novo sistema inspira oposição, e todo o processo de combate começa outra vez. O que começa como uma revolução pioneira e agressiva se toma, com o sucesso, a tradição estabelecida, que então sucumbe diante da força vigorosa de um jovem e novo movimento. O sucesso destrói o vigor. Um movimento alimenta- se da oposição. Quando esta é derrotada, a paixão e o ardor do que foi um novo movimento morrem. Embora tenha sido apenas temporário o domínio ao menos algumas escolas de pensamento, cada uma delas desempenhou um papel vital no desenvolvimento da ciência psicológica. A influência das escolas ainda pode ser vista na psicologia contemporânea, mesmo que suas facções tenham pouca semelhança com os sistemas precedentes, porque mais uma vez novas doutrinas substituiram as antigas. Edna Heidbreder, uma destacada historiadora da psicologia, comparou a função das escolas de pensamento na psicologia com a dos andaimes usados para levantar um prédio alto (Heidbreder, 1933). Sem o andaime a partir do qual trabalhar, a estrutura não pode ser construída, mas o andaime não permanece; quando já não é necessário, ele é retirado. Do mesmo modo, a estrutura da psicologia de hoje foi construída com o arcabouço e as diretrizes (os andaimes) estabelecidos pelas escolas anteriores de pensamento. Não podemos considerar nenhuma escola de pensamento como a versão completa do facto científico. As escolas não são, em sentido algum, produtos acabados; em vez disso, elas oferecem o instrumental, os métodos e os esquemas conceituais que a psicologia emprega para acumular e organizar um corpo de factos científicos. Como observamos, a moderna ciência psicológica não atingiu a sua forma final. Novas escolas tomaram o lugar das antigas, mas nada garante a sua permanência no processo evolutivo da construção desta ciência. As escolas de pensamento são estágios temporários, embora necessários ao desenvolvimento da psicologia. A melhor perspectiva para a compreensão do estimulante avanço da psicologia é a do desenvolvimento histórico de suas escolas de pensamento. Pessoas proeminentes deram contribuições notáveis e fizeram pronunciamentos inspiradores, mas a importância da sua obra é mais perceptível quando considerada no contexto das idéias que precederam as suas, e que com frequência serviram de base para as novas formulações, bem como no âmbito dos trabalhos que as seguiram. Vejamos as Contribuições do Empirismo à Psicologia Nos jardins reais da Europa do século XVII surgiu uma extravagante forma de divertimento entre as muitas maravilhas de uma época verdadeiramente estimulante. A água, correndo em tubulações subterrâneas, punha em operação figuras mecânicas que faziam uma variedade de movimentos, tocavam instrumentos musicais e chegavam a produzir sons semelhantes a palavras. Placas de pressão ocultas, activadas quando as pessoas inadvertidamente pisavam nelas, empurravam a água pelos encanamentos até o maquinário que movia as estátuas. Essas diversões da aristocracia refletiam e reforçavam o fascínio seiscentista pelo milagre da máquina. Toda espécie de máquina foi inventada e aperfeiçoada para uso na ciência, na indústria e nas diversões, O relógio mecânico — chamado por um historiador de “a mãe das máquinas” — é o exemplo mais importante por causa do seu impacto no pensamento científico (Boorstin, 1983). Os relojoeiros foram os primeiros a aplicar teorias da física e da mecânica à construção de máquinas. Além dos relógios, foram desenvolvidos bombas, alavancas, roldanas e guindastes para servir às necessidades humanas, e parecia não haver limites aos tipos de máquinas possíveis de se conceber, ou aos usos que lhes poderiam ser dados. Você pode se perguntar qual a relação disso com a história da psicologia moderna. Referirno-nos, afinal, a uma época que precede em duzentos anos o estabelecimento da psicologia como ciência focalizando a tecnologia e a física, disciplinas que parecem bem distantes do estado da natureza humana. A relação, no entanto, é clara e directa, visto que os princípios personificados pelos relógios e figuras mecânicas do século XVII influenciaram a direcção que a nova psicologia seguiria em quase toda a sua existência. Falamos aqui dos séculos XVII a XIX, o solo intelectual que alimentou a nova psicologia. A ideia ou conceito básico do século XVII — a filosofia que iria alimentar a nova psicologia — era o espírito do mecanismo, a imagem do universo como uma grande máquina. Essa doutrina afirmava que todos os processos naturais são mecanicamente deteminados e podem ser explicados pelas leis da física. A ideia teve origem na física — então conhecida como filosofia natural — como resultado do trabalho de Galileu e, mais tarde, de Newton (que, talvez não tão por acaso, fora aprendiz de relojoeiro). Acreditava-se que a natureza de tudo o que existia no universo fossem apenas partículas de matéria em movimento. Segundo Galileu, a matéria se compunha de corpúsculos discretos ou de átomos que se afectavam uns aos outros pelo contacto directo, como o fazem as bolas de bilhar. Mais tarde, Newton aprimorou a concepção mecânica de Galileu ao postular que o movimento não era transmitido pelo contacto físico, mas por forças de atracção e repulsão. Sua ideia, embora importante na física, não alterou radicahnente o conceito nem o modo como ele foi usado na psicologia. Se o universo consistia de átomos em movimento, todo efeito físico (o movimento de cada átomo) seria consequência de uma causa directa (o movimento do átomo que colidira com ele), e estaria sujeito a leis de medida e cálculo, devendo ser, por conseguinte, previsível. Esse jogo de bilhar, a operação do universo físico, era organizado e sistemático, como um relógio ou qualquer outra boa máquina. O universo físico fora planejado por Deus com perfeição absoluta — no século XVII, os cientistas ainda podiam atribuir causa e perfeição a Deus — e, uma vez que os cientistas conhecessem as leis de funcionamento do universo, seria possível determinar como ele se comportaria no futuro. Os métodos e as descobertas da ciência nesse período se desenvolviam a passos largos ao lado da tecnologia, havendo entre elas uma combinação de extrema eficácia. A observação e a experimentação tomavam-se as marcas distintivas da ciência, seguidas de perto pela medição. Os pesquisadores logo iriam tentar definir ou descrever todo fenómeno por meio de um número — um processo vital para o estudo do universo como máquina. Nessa era da máquina, foram desenvolvidos e aperfeiçoados termômetros, barômetros, réguas de cálculo, micrômetros, relógios de pêndulo e outros dispositivos de medição, que serviram para reforçar a noção de que era possível medir todos os aspectos do universo mecânico. O Universo Mecânico, como funciona? O relógio era a metáfora perfeita para o espírito mecanicista do século XVII, tendo sido justamente considerado uma das maiores invenções de todos os tempos. Os relógios eram, na época, uma sensação tecnológica, não muito diferentes do que os computadores são no nosso século. Nenhuma outra máquina tinha tido tal impacto sobre o pensamento humano em todos niveis da sociedade. Nessa época os relógios eram produzidos em grande número e em variados tamanhos. Alguns eram pequenos o bastante para caber numa cornija de lareira. com maiores, alojados nas torres das igrejas e edifícios públicos, podiam ser vistos e ouvidos para todos os habitantes de uma cidade. Enquanto o espetáculo das figuras mecânicas movidas água nos jardins reais só era visto pela elite, os relógios eram acessíveis a todos, independendemente de classe ou de circunstâncias económicas. O conceito do relógio mecânico apossou da mente e do espírito de toda uma civilização como nenhuma outra máquina antes. Raras vezes na história uma máquina expressou tão directamente, e ao mesmo tempo afectou, clima intelectual de sua época” (Maurice e Mayr, 1980, pp. 34-56). Devido à sua visibilidade, regularidade e precisão, os pesguisadores começaram a considerar os relógios como modelos para o universo fisico, perguntando-se se o próprio mundo não poderia ser um vasto relógio construído e movido pelo Criador”. Muitos cientistas — incluindo o físico inglês Robert Boyle, o astrônomo alemão Johannes Kepler e o filósofo francês René Descartes — responderam à pergunta com uma afirmação e passaram a considerar o universo “um grande relógio” (Boorstin, 1983, pp. 71, 72). Eles acreditavam que a harmonia e a ordem do universo podiam ser explicadas em termos da regularidade dos relógios, que é embutida na máquina pelo relojoeiro, assim como a regularidade do universo fora, segundo se pensava, embutida nele por Deus. O filósofo alemão Christian von Wolff descreveu o relógio e o universo em termos simples: “O universo não se comporta distintamente do mecanismo de um relógio.” Seu aluno Johann Cristoph Gottsched desenvolveu o princípio: Na medida em que é uma máquina, o universo assemelha-se a um relógio; e é num relógio que podemos, numa escala menor, tornar mais evidente à compreensão aquilo que ocorre no universo em escala maior. As engrenagens do relógio representam as partes do universo; os movimentos dos ponteiros os eventos e as modificações que se processam no universo. Assim como no relógio todas as posições das engrenagens e dos ponteiros advêm do arranjo interior, da forma, da dimensão e da ligação de todas as suas partes de acordo com as regras do movimento, assim também tudo quanto acontece no univeiso produz o seu efeito (Maurice e Mayt, 1980, p. 290). Quando visto como uma máquina semelhante a um relógio, o universo, uma vez construido e posto em movimento, vai continuar a funcionar com eficiência sem nenhuma interferencia exterior. O uso da metáfora do relógio envolve a ideia do determinismo, a crença de que todo acto é determinado por eventos passados. Podemos prever as mudanças que vão ocorrer no relógio, bem como no universo, por causa da regularidade e da sequência operacional de suas partes. Gottsched acrescentou: “Aquele que perceber perfeitamente a estrutura [ relógio] poderá ver toda coisa futura a partir do seu passado e do seu estado presente de organização” (Maurice e Mayr, 1980, p. 290). Não era difícil perceber perfeitamente a estrutura do relógio. Qualquer pessoa poderia com facilidade, desmontar um, e ver exactamente como ele funcionava. Desse modo, o reducionismo como método de análise foi propagado como um artigo de fé para nova ciência. O funcionamento de máquinas como os relógios podia ser compreendido por meio da sua análise e redução aos seus componentes básicos. Da mesma maneira, poder-se-ia compreender o universo físico — que era, afinal, apenas outra máquina — analisando-o ou reduzindo-o às suas partes mais simples: moléculas e átomos. O reducionismo como método de análise iria caracterizar todas as ciências em desenvolvimento, incluindo a nova psicologia. Sendo úteis a uma explicação do funcionamento do universo físico, a metáfora do relógio e a análise científica também serviriam para o estudo da natureza humana? Se o universo era semelhante a uma máquina — organizado, previsível, observável e mensurável —, não poderiam os seres humanos ser considerados do mesmo modo? As pessoas e os animais também eram uma espécie de máquina? A aristocracia intelectual e social do século XVII já tinha os modelos para essa noção nas figuras mecânicas dos seus jardins, e a proliferação de relógios fornecia modelos semelhantes para todos. Em todos os níveis da sociedade, as pessoas só precisavam olhar ao seu redor para ver geringonças mecânicas chamadas autômatos realizando façanhas prodigiosas com precisão e regularidade. Esses bonecos automáticos podem ser vistos hoje nas praças centrais de muitas cidades europeias, onde as figuras mecânicas no relógio da torre das prefeituras marcham e dançam, tocam instrumentos musicais e, com seus martelos, fazem soar imensos sinos para marcar os quartos de hora. Esse tipo de tecnologia mecânica, ao ver dos filósofos e cientistas da época, parecia capaz de realizar o seu sonho de criar um ser artificial. Na verdade, muitos dos primeiros bonecos automáticos davam claramente essa impressão. Poderíamos considerá-los os bonecos de Disney da época, e é fácil compreender por que as pessoas chegaram à conclusão de que os seres humanos e os animais não passavam de outras formas de máquina. Podemos compreender, quase à primeira vista, o funcionamento das engrenagens, alavancas, catracas e outros dispositivos que produzem os movimentos da figura. René Descartes e outros filósofos adotaram esses bonecos automáticos, ao menos até certo ponto, como modelos para os seres humanos. Para eles, não era apenas o universo que se assemelhava ao mecanismo do relógio; as pessoas também. Descartes escreveu que essa ideia não iria parecer nada estranha para quem estívesse acostumado com os diferentes autómatos, ou máquinas que se movem, fabricadas pelo engenho humano... essas pessoas vão considerar o próprio corpo uma máquina feita pela mãos de Deus, incomparavelmente mais bem organizada e adequada a movimentos mais admiráveis do que qualquer máquina inventada pelo homem” (Descartes, 1637/1912, p. 44). As pessoas podiam ser máquinas melhores do que as construídas pelos relojoeiros, mas máquinas mesmo assim. Desse modo, os relógios abriram caminho para a ideia de que os seres humanos são mecânicos e que os mesmos métodos experimentais e quantitativos, que tinham alcançado tanto sucesso no estudo dos segredos do universo físico, podiam ser aplicados à pesquisa de natureza humana. Em 1748, o médico francês Julien de La Mettrie (que morreu de un overdose de faisão e trufas) afirmou: “Tenhamos a coragem de concluir que o homem é máquina.” Isso se tomou uma força propulsora , não somente na filosofia, mas em todos os aspectos da vida, e alterou drasticamente a imagem da natureza humana até então. E assim surgiram, entre os séculos XVII e XIX, a concepção dos seres humanos máquinas e o método científico, mediante o qual era possível investigar a natureza humana. As pessoas se tomaram máquinas, o mundo modemo foi dominado para perspectiva científica e todos os aspectos da vida passaram a ficar sujeitos a leis mecânicas. Os Primórdios da Ciência Moderna, qual é o seu impacto, caros estudantes? Observamos que o século XVII testemunhou desenvolvimentos científicos de longo alcance. Até então, os filósofos tinham procurado respostas no passado, nas obras de Aristóteles e outros sábios antigos, bem como na Bíblia. As forças que governavam a busca do conhecimento eram o dogma e as figuras de autoridade(os sobrenatunais). Nesse século, uma nova força assumiu predominância: o empirismo, a obtenção do conhecimento por meio da observação da natureza. A sabedoria vinda do passado tornou-se suspeita. A idade de ouro seiscentista foi iluminada pelas descobertas e percepções de estudiosos que, com sucesso, criaram ou reflectiram a atmosfera propícia a mudanças em que a pesquisa científica florescia. Embora esses pesquisadores tenham importância para a história da ciência, a maior parte do seu trabalho não tem relação directa com a evolução da psicologia. Um deles, no entanto, René Descartes, contribuiu directamente para a história da psicologia moderna. Mais do que ninguém, ele libertou a pesquisa dos rígidos dogmas teológicos e tradicionais que a haviam controlado durante séculos em mitocismos. Ele simbolizou a transição da Renascença para a moderna era científica, ao aplicar a ideia do mecanismo do relógio ao corpo humano. Muitos acreditam que, com isso, ele inaugurou a psicologia moderna. René Descartes (1596-1650). Descartes nasceu na França em 31 de Março de 1596. Seu pai era conselheiro no parlamento da Bretanha, e dele Descartes herdou recursos suficientes para sustentar uma vida de estudos e viagens. Ao contrário de outras pessoas em circunstâncias semelhantes, ele não se tomou um diletante, o que é possível atribuir ao seu gênio, à sua curiosidade e à sua fome de saber, bem como à sua indiferença pela autoridade dogmática e ao seu desejo de evidências e provas. De 1604 a 1612, foi aluno de um colégio jesuíta, onde estudou humanidades e matemática Também exibia um considerável talento para a filosofia, a física e a fisiologia. Como Descartes tinha uma saúde frágil, o reitor o dispensou dos serviços religiosos matinais e permitiu que ficasse na cama até o meio-dia, hábito que ele manteve por toda a vida. Era nas calmas manhãs que ele estudava e produzia suas ideias mais criativas. Depois de completar sua educação formal, Descartes foi provar as delícias da vida em Paris. Com o tempo, acabou se cansando e resolveu recolher-se para estudar matemática. Em 1617, tornou-se cavalheiro voluntário dos exércitos da Holanda, da Bavária e da Hungria atitude estranha para alguém de natureza tão contemplativa. Em novembro de 1619, ainda no exército, Descartes teve uma série de sonhos que modificaram a sua vida. Segundo seu relato, ele passara o dia 10 de Novembro sozinho, no quarto aquecido por uma estufa, meditando sobre ideias relacionadas com a matemática e ciências. Descartes adormeceu e, em sonhos, de acordo com a sua interpretação posterior, repreendido porque ele havia sido visitado pelo Espírito da Verdade, que se apossou na sua mente. Essa experiência profunda o persuadiu a dedicar a vida à proposição de que a matemática podia ser aplicada a todas as ciências e, assim, produzir a certeza do conhecimento. Voltou a Paris em 1623 para prosseguir a sua obra matemática e mais uma vez viu que a vida ali era demasiado dispersiva. Vendeu as propriedades herdadas do pai e mudou-se para o interior da Holanda em 1628. Sua necessidade de solidão e de reclusão era tarnanha que, nos vinte anos seguintes, viveu em treze cidades e em vinte e quatro casas diferentes. Dentre as contribuições do matemático e filósofo francês René Descartes à psicologia estão a doutrina das idéias inatas, a noção da ação reflexa e uma teoria da interação mente-corpo, e ele foi levado diante dos magistrados para responder às acusações feitas por Teólogos de duas cidades holandesas, de ser ateu e libertino, acusações sérias para um católico devoto. A fama crescente de Descartes chamou a atenção da rainha Cristina da Suécia, que o convidou a ensinar-lhe filosofia. Embora relutante em renunciar à sua liberdade e solidão, ele tinha grande respeito pelas prerrogativas reais. Um navio de guerra foi enviado para buscá-lo, e ele embarcou para a Suécia no outono de 1649. A rainha, que fora descrita como uma aluna não muito boa, insistiu em iniciar as aulas às cinco horas da manhã numa biblioteca mal- aquecida durante um inverno incomumente rigoroso. Descartes suportou levantar-se cedo e enfrentar o frio extremo por quase quatro meses, antes de morrer de pneumonia em 11 de fevereiro de 1650. Um interessante pós-escrito à morte de um homem que dedicou boa parte da vida ao estudo da interação entre a mente e o corpo é a história do que se passou com seu próprio corpo. Dezesseis anos depois de sua morte, os amigos decidiram que seus despojos deveriam voltar à França. Infelizmente, o ataúde que enviaram à Suécia era pequeno demais para conter os seus restos mortais. A solução a que chegaram as autoridades foi cortar a cabeça e conservá- la em Estocolmo até que pudessem ser tomadas providências para devolvê-la a Paris. Enquanto o cadáver estava sendo preparado para a viagem à França, o embaixador francês na Suécia decidiu que queria uma lembrança e cortou o indicador direito. O corpo, agora sem cabeça e com um dedo a menos, foi sepultado novamente em Paris em meio a grande pompa e esplendor. Algum tempo depois, um oficial do exército desenterrou o crânio e, por 150 anos, ele mudou de mãos, de um colecionador sueco para outro, até fmalmente chegar a Paris, onde hoje está em exibição no Museu do Homem. O Mecanismo e o Problema Mente-Corpo O mais importante trabalho de Descartes em favor do progresso da psicologia é sua tentativa de resolver o problema mente-corpo, objecto de controvérsia durante séculos. Ao longo das épocas, os eruditos têm discutido sobre o modo como a mente, ou as qualidades mentais, podia se distinguir do corpo e de todas as outras qualidades físicas. A questão básica e enganosamente simples é: a mente e o corpo — o mundo mental e o mundo material — são essências ou naturezas distintas? Desde a época de Platão, a maioria dos pensadores tinha assumido uma posição dualista; sustentava-se que a mente (ou alma, ou espírito) e o corpo tinham naturezas diferentes. Mas aceitar essa posição traria outros problemas: se a mente e corpo têm naturezas diferentes, qual é o relacionamento entre eles? Um influencia o outro o eles são independentes? A teoria aceita antes da época de Descartes dizia que a interação tinha essencialment uma direcção: a mente podia exercer uma enorme influência sobre o corpo, mas este tinh pouco impacto sobre ela. Um historiador contemporâneo sugeriu que, antes de Descarte concebiase que a relação entre mente e corpo era a mesma que entre a marionete e o seu manipulador (Lowry, 1982). A mente é como o manipulador, movimentando os cordões do corpo Descartes aceitou essa posição dualista. A seu ver, a mente e o corpo eram essências diferentes. Mas ele se desviou da tradição ao definir o relacionamento entre os dois. Em sua teoria da interação mente-corpo, Descartes sugeriu que a mente influencia o corpo que este pode exercer sobre ela uma influência maior do que antes se supunha. A relação não é unilateral, mas sim uma interação mútua. Essa ideia, radical no século XVII, teve importantes implicações. Depois que Descartes propôs sua doutrina, muitos estudiosos descobriram que já não podiam sustentar a ideia de que a mente era o mestre das duas entidades, funcionando quase independentemente do corpo. Esta essência material, passou a ser visto com certas funções antes atribuidas à mente passaram a ser consideradas pertenceutes ao corpo. Na Idade Média, por exemplo, acreditava-se que a mente era responsável não só pelo pensamento e pela razão, mas também pela reprodução, pela percepção e pela locomoção. Descartes alegava que a mente só tinha uma função: a de pensar. Todos os outros processos eram funções do corpo. Desse modo, ele introduziu uma abordagem do problema mente-corpo que focalizava a atenção numa dualidade física/psicológica. Ao fazê-lo, desviou a atenção do conceito abstracto da alma para o estudo da mente e suas operações. Como resultado, os métodos de pesquisa deixaram a análise metafísica e abraçaram a observação objectiva. Enquanto só se podia especular sobre a existência da alma, era possível observar a mente e os seus processos. Logo, mente e corpo são duas entidades distintas. Não há semelhança qualitativa entre o corpo (o mundo material ou físico) e a mente (o mundo mental). A matéria, a substância material do corpo, tem extensão (ela ocupa espaço) e opera de acordo com princípios mecânicos. A mente, contudo, é livre, não tem extensão nem substância. Mas a ideia revolucionária é a de que mente e corpo, embora distintos, são capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente pode influenciar o corpo e o corpo pode influenciar a mente. Examinemos com mais atenção a concepção cartesiana do corpo. Sendo composto de matéria física, o corpo deve ter as características comuns a toda a matéria — extensão no espaço e capacidade de movimento. Se ele é matéria, as leis da física e da mecânica que explicam o movimento e a acção no mundo físico também têm de aplicar-se a ele. Quando considerado à parte da mente — e é possível fazê-lo porque corpo e mente são entidades distintas — o corpo é como uma máquina cuja operação pode ser explicada pelas leis mecânicas que governam o movimento de objectos no espaço. Seguindo essa linha de raciocínio, Descartes passou à explicação do funcionamento fisiológico em termos de física. O filósofo francês recebera forte influência do espírito mecanicista da época, tal como se reflectia nos relógios mecânicos e autômatos a que nos referimos. Enquanto se recobrava do que os seus biógrafos denominaram um colapso nervoso”, aos dezoito anos, ele se recuperou numa cidade próxima de Paris onde a sua única diversão era percorrer os jardins reais recém- construídos. Ele ficou fascinado com as maravilhas mecânicas ali instaladas e passava muitas horas pisando nas placas de pressão que faziam os jatos de água activar as figuras que se moviam, dançavam e emitiam sons. Essa experiência ajudou a moldar sua maneira de ver o universo físico, em especial no tocante ao corpo humano e animal. Descartes acreditava que o corpo funcionava exactamente como uma máquina, e não via diferença entre ele e as figuras accionadas hidraulicamente nos jardins: Explicava todo aspecto do funcionamento físico — como a digestão, a circulação, a sensação e a locomoção — em termos mecânicos. Quando descrevia o corpo, Descartes se referia directamente às figuras que vira nos jardins reais. Ele comparava os nervos do corpo com os canos pelos quais a água passava, e os músculos e tendões com motores e molas. O movimento dos modelos mecânicos não era causado por uma acção voluntária da sua parte, mas por objectos externos; a natureza involuntária desse movimento reflectia-se na observação de Descartes de que os movimentos corporais ocorrem muitas vezes sem a intenção consciente da pessoa. A partir disso, ele chegou à ideia da undulatio reflexa, um movimento não supervisionado nem determinado pela vontade de se mover. Por causa dessa proposição, consideram-no muitas vezes o autor da teoria da acção reflexa. Essa ideia é precursora da moderna psicologia comportamental do estímulo-resposta (E-R) em que um objecto externo (um estímulo) provoca uma resposta involuntária — e uma das noções-chave de boa parte da psicologia americana do século XX. Descartes encontrou apoio para a sua interpretação mecânica do funcionamento do corpo humano no campo da fisiologia. Em 1628, o médico inglês William Harvey descobrira os factos fundamentais acerca da circulação sangüínea, e desde então muita coisa estava sendo estudada sobre o processo digestivo. Sabia-se também que os músculos do corpo funcionavam em pares opostos, e que a sensação e o movimento de alguma forma dependiam dos nervos. Embora os pesquisadores da fisiologia estivessem dando grandes passos na compreensão do corpo humano, sua informação estava longe de ser completa. Pensava-se, por exemplo, que os nervos eram tubos ocos pelos quais fluiam as essências animais. Nossa preocupação aqui, contudo, não é a precisão nem a abrangência da fisiologia do século XVII, mas a sua coerência com uma interpretação mecânica do corpo. Como não possuiam alma, os animais eram considerados autômatos. Assim preservava- se a diferença entre seres humanos e animais, tão importante para o pensamento cristão. Além disso, acreditava-se que os animais eram desprovidos de sentimentos. Como poderiam ter sentimentos se não tinham alma? Descartes dissecava animais vivos, antes de haver anestesia, e parecia “divertir-se com seus gritos e lamentos, já que estes não eram senão assobios hidráulicos e vibrações de máquinas” (Jaynes, 1970, p. 224). Essas ideias faziam parte da tendência geral favorável à noção de que o comportamento humano era previsível. O corpo mecânico movimenta-se e se comporta de maneiras previsíveis desde que se saiba quais são os estímulos. Os animais, sendo semelhantes a máquinas, pertencem por inteiro à categoria dos fenómenos físicos. Assim, não têm imortalidade, são incapazes de pensar e não têm livre-arbítrio. Anos mais tarde, Descartes fez algumas revisões menores em seu pensamento sobre os animais, mas nunca alterou sua convicção de que o comportamento animal pode ser totalmente explicado em termos mecanicistas. Os escritos de Descartes referem-se frequentemente à natureza mecânica dos animais. “Sei muito bem que os animais fazem muitas coisas melhor do que nós, mas isso não me surpreende e serve precisamente para provar que eles agem de modo natural e pela força de molas semelhantes às de um relógio, que indica a hora de modo muito melhor do que o nosso julgamento” (Maurice e Mayr, 1980, p. 5). Embora, segundo Descartes, a mente seja imaterial (isto é, não composta de matéria física), ela é capaz de abrigar o pensamento e a consciência, e, em consequência, nos proporciona conhecimento sobre o nosso mundo exterior. A mente não tem nenhuma das propriedades da matéria. Sua característica mais importante é a capacidade de pensar, o que a aparta do mundo material. Como percebe e tem vontade, a mente tem de influenciar o corpo e ser influenciada por ele de alguma maneira. Quando ela decide deslocar-se de um ponto a outro, por exemplo, essa decisão é concretizada pelos nervos e músculos do corpo. Do mesmo modo, quando o corpo é estimulado — pela luz ou pelo calor, por exemplo —, é a mente que reconhece e interpreta esses dados sensoriais, determinando a resposta apropriada. Descartes formulou uma teoria sobre a interacção dessas duas entidades, mas precisou antes encontrar um ponto físico onde a mente e o corpo se engajassem em sua influência mútua. Ele concebeu a alma como uma entidade unitária, o que significava que ela devia interagir com apenas uma parte do corpo. Ele também acreditava que o ponto de interacção se localizava em algum lugar do cérebro, porque a pesquisa demonstrara que as sensações se deslocam para o cérebro e que é nele que o movimento tem origem. Assim, estava claro que o cérebro tinha de ser o ponto focal das funções mentais. A única estrutura cerebral simples e unitária (isto é, não dividida nem duplicada nos dois hemisférios) é a glândula pineal ou conariurn, e Descartes a considerou a escolha lógica como sede da interacção. Descartes descreveu em termos mecanicistas a maneira como a interacção entre mente e corpo ocorre. Sugeriu que o movimento das essências animais nos tubos nervosos produz uma impressão no conarium e que, a partir dessa impressão, a mente produz uma sensação. Em outras palavras, uma quantidade de movimento (o fluxo das essências animais) produz uma qualidade puramente mental (uma sensação). O inverso também ocorre, ou seja, a mente pode de algum modo deixar uma impressão no conarium (de uma maneira que ele nunca esclareceu), impressão que, inclinando-se para uma ou outra direcção, influencia a direcção do fluxo de essências animais para os músculos, do que resulta um movimento. Logo, uma qualidade mental pode influenciar o movimento, uma propriedade do corpo. Descartes não afirmava que a alma estivesse confmada ao conariurn, que ele designava apenas como a sede da interacção, nem contida nele. Ele acreditava que a alma se unia com todas as partes do corpo e que o corpo inteiro era a sede da alma. Ele prop6s um ideário que teve uma profunda influência no desenvolvimento da psicologia moderna. Sugeriu que a mente dá origem a duas espécies de idéias: ideias derivadas e ideias inatas. Ideias derivadas são as produzidas pela aplicação directa de um estimulo externo, como o som de um sino ou a visão de uma árvore. Assim, as ideias derivadas são produto das experiências sensoriais. Ideias inatas não são produzidas por objectos do mundo exterior que entram em contacto com os sentidos. A designação inato descreve a fonte dessas ideias; elas se desenvolvem a partir apenas da mente ou consciência. A existência potencial de ideias inatas independe de experiências sensoriais, embora essas ideias possam ser concretizadas ou manifestadas na presença de experiências apropriadas. Algumas das ideias inatas identificadas por Descartes são o eu, Deus, os axiomas geométricos, a perfeição e o infinito. A doutrina das ideias inatas é discutida e ela culmina na teoria nativista da percepção, a ideia de que a nossa capacidade de perceber é antes inata do que adquirida, e na escola de psicologia da Gestalt ela também inspirou uma acirrada oposição entre os primeiros empiristas e associacionistas britânicos, bem como entre empiristas ulteriores como Helmholtz e Wundt. A obra de Descartes serviu de catalisador para muitas tendências que mais tarde tiveram destaque na psicologia. Suas contribuições sistemáticas mais dignas de nota são a concepção mecanicista do corpo, a noção de acção reflexa, a teoria da interacção mentecorpo, a localização das funções mentais no cérebro e a doutrina das ideias inatas. Com Descartes, vemos a ideia do mecanismo aplicada ao corpo humano. Mas a filosofia mecanicista exercia uma influência tão penetrante que foi apenas uma questão de tempo para que fosse aplicada também à mente humana. É para esse acontecimento significativo — a redução da mente a uma máquina — que nos voltamos agora. Caros estudantes, do 1º ano Curso de Psicologia Escolar no ISEDEF, vejamos agora a discussão dos Empiristas e Associacionistas Britânicos: Como Adquirir Conhecimento por Intermédio da Experiência? Depois de Descartes, foi rápido e prolífico o desenvolvimento da ciência moderna em geral e da psicologia em particular. Por volta da metade do século XIX, o longo período da psicologia pré-científica tinha chegado ao fim. Nessa época, o pensamento filosófico europeu estava impregnado por um novo espírito: o positivismo. O termo e a concepção são o trabalho do filósofo francês Auguste Comte, que empreendia um levantamento sistemático de todo o conhecimento, um projecto deveras ambicioso. Para tornar a sua tarefa mais factível, Comte decidira limitar seu trabalho a factos inquestionáveis, aqueles que tinham sido determinados através dos métodos da ciência. Assim, positivismo se refere a um sistema baseado exclusivamente em factos objectivamente observáveis e indiscutíveis. Tudo o que tiver natureza especulativa, inferencial ou metafísica é rejeitado como ilusório. A aceitação do positivismo significava que havia então dois tipos de proposições. “ Referimo-nos aos objectos dos sentidos, e isso é uma afirmação científica. O resto é absurdo!” (Robinson, 1981, p. 333). O conhecimento derivado da metafísica e da teologia devia ser rejeitado; só o conhecimento produzido pela ciência era considerado válido. Outras ideias no campo da filosofia sustentavam o positivismo antimetafísico. Os estudiosos adeptos do materialismo acreditavam que todas as coisas podiam ser descritas em termos físicos e compreendidas à luz das propriedades físicas da matéria e da energia. Eles pensavam que a consciência também podia ser explicada nos termos da física e da química. As considerações materialistas dos processos mentais privilegiavam o aspecto físico, isto é, as estruturas anatômicas e fisiológicas do cérebro. Um terceiro grupo de filósofos, os defensores do empirismo, estava voltado para o modo como a mente adquire conhecimento. Eles alegavam que todo conhecimento é derivado da experiência sensorial. A concepção popular da natureza humana e do mundo estava em rápida modificação. O positivismo, o materialismo e o empirismo iriam converter-se nos fundamentos filosóficos da nova psicologia. Começava-se a entabular discussões sobre os processos psicológicos no âmbito de evidências factuais observacionais e quantitativas baseadas na experiência sensorial; dava-se uma crescente ênfase aos processos fisiológicos envolvidos no funcionamento mental. Dentre essas três orientações filosóficas, coube ao empirismo o principal papel na configuração das primeiras etapas do desenvolvimento da nova ciência psicológica. O empirismo estava voltado para o desenvolvimento da mente, para o modo como ela adquire conhecimento. Segundo a concepção empirista, a mente se desenvolve por meio do acúmulo progressivo de experiências sensoriais. Essa ideia se opõe à perspectiva nativista exemplificada por Descartes, que afírma que algumas ideias são inatas. Vamos considerar alguns dos principais empiristas britânicos: John Locke, George Berkeley, David Hume, David Hartley, James Miii e John Stuart Mil. John Locke (1632-1704) Filho de um advogado, John Locke estudou em universidades em Londres e Oxford (Inglaterra); e recebeu o grau de bacharel em 1656 e o mestrado pouco depois. Permaneceu em Oxford por vários anos, ensinando grego, retórica e filosofia, tendo mais tarde passado a praticar a medicina. Começou a se interessar por política e, em 1667, foi para Londres para ser secretário do Conde de Shaftesbury, tomando-se mais adiante confidente e amigo desse controvertido estadista. A influência de Shaftesbury no governo diminuiu, e, em 1681, depois de participar de uma conspiração contra o rei Carlos II, fugiu para a Holanda. Embora Locke não se tivesse envolvido na conspiração, seu relacionamento com o conde o deixou sob suspeita, levando-o a fugir também para a Holanda. Vários anos depois, ele volta para Inglaterra, onde se tomou Comissário de Apelações e escreveu tratados sobre a educação, a religião e a economia. Locke tinha particular interesse pela liberdade religiosa e pelo direito de autogovemo popular. Seus escritos lhe conferiram muita fama e influência, e ele foi louvado por toda a Europa como defensor do liberalismo no governo. Sua principal obra de importância para a psicologia é An Fssay Concerning Human Understanding (Ensaio Acerca do Entendimento Humano) (1690), que foi o ponto culminante de quase vinte anos de estudo e reflexão. Esse livro, que até 1700 teve quatro edições e foi traduzido para o francês e para o latim, assinalou o início formal do empirismo britânico. Locke se interessava essencialmente pelo funcionamento cognitivo, isto é, os modos pelos quais a mente adquire conhecimento. Ao tratar dessa questão, ele negou a existência de ideias inatas propostas por Descartes, alegando que os seres humanos não estão equipados ao nascer com qualquer espécie de conhecimento. O filósofo empirista inglês John Locke alegou que, quando nascemos, a mente é uma folha em branco que adquire conhecimento mediante a experiência sensorial. de Deus, podem parecer inatos aos adultos, mas que isso se deve ao facto de essas ideias nos terem sido ensinadas na infância e ao facto de nós não podermos nos lembrar de nenhuma época em que não tivéssemos consciência delas. Desse modo, Locke explicou o caráter aparentemente inato de algumas ideias em termos de aprendizagem e de hábito. Como, então, a mente adquire conhecimento? Para Locke, o conhecimento é adquirido por meio da experiância. Todo conhecimento tem base empírica. Ele escreveu: “Suponhamos, pois, que a mente seja, como dizemos, um papel em branco, desprovido de todos os caracteres, sem quaisquer ideias. Como ele vai ser preenchido”? De onde há de vir esse vasto estoque que a fantasia humana, activa e ilimitada, pintou nele com uma variedade quase infinita? De onde ele retira todos os elementos da razão e do conhecimento? A isso respondo, em uma palavra: da experiência. Nela está fundado todo o nosso conhecimento; e dela deriva, em última análise, o próprio conhecimento (Locke, 1690/1959). Aristóteles sustentara uma noção semelhante, a de que a mente, no nascimento, era uma tabula rasa, uma folha limpa ou em branco que a experiência iria preencher. Locke reconhecia dois tipos distintos de experiência, um derivado da sensação e o outro da reflexão. As ideias que advêm da sensação, da estimulação sensorial directa causada por objectos físicos no ambiente, são impressões sensoriais simples. Além da operação dessas sensações na mente, esta também age sobre essas sensações, reflectindo acerca delas e, assim, gerando ideias. A função mental ou cognitiva de reflexão como fonte de ideias depende, no entanto, da experiência sensorial, visto que as ideias produzidas pela reflexão da mente se baseiam nas ideias já experimentadas por intermédio dos sentidos. No desenvolvimento do indivíduo, a sensação vem primeiro. Ela é uma precursora necessária da reflexão porque tem de haver primeiro um reservatório de impressões sensoriais para que a mente seja capaz de reflectir. Na reflexão, a pessoa se recorda de impressões sensoriais passadas e as combina de várias maneiras para formar abstracções e outras ideias de nível superior. Todas as ideias, por mais complexas, vêm dessas duas fontes; mas a fonte última permanece sendo as impressões dos sentidos ou a experiência. Locke também distinguia entre ideias simples e idéias complexas. As ideias simples podem advir da sensação e da reflexão, sendo recebidas passivamente pela mente. São elementares e, por isso, não podem ser analisadas nem reduzidas a ideias mais simples. Entretanto, como observamos, a mente, mediante o processo de reflexão, cria novas ideias através da combinação de outras. Essas ideias derivadas são o que Locke denominou ideias complexas, que são formadas a partir de ideias simples advindas tanto da sensação como da reflexão. As ideias complexas se compõem de ideias simples, razão por que podem ser analisadas ou decompostas em ideias simples. Essa noção da combinação ou composição de ideias e de sua análise marca o começo da abordagem da química mental que caracteriza a teoria da associação, na qual ideias simples vão ser vinculadas para formar ideias complexas. A associação é um nome mais antigo para o processo que viria a ser chamado de aprendizagem. A redução, ou análise, da vida mental a elementos ou ideias simples e a associação desses elementos para compor ideias complexas formaram o núcleo da nova psicologia científica. Assim como os relógios e outras máquinas podiam ser reduzidos às suas peças componentes, podendo essas peças ser montadas outra vez para formar a máquina complexa, era possível fazer o mesmo com as ideias. Em essência, Locke tratou a mente como se esta se comportasse de acordo com as leis do universo físico. As partículas básicas ou átomos do mundo mental são as ideias simples, conceitualmente análogas aos átomos materiais do esquema mecanicista de Galileu e Newton. Os elementos básicos da mente são indivisíveis. Eles não podem ser decompostos em nenhuma coisa mais simples e, tal como os seus equivalentes no mundo material, podem combinar-se de várias maneiras para formar estruturas mais complexas. Esse foi um passo significativo para vir-se a considerar a mente tal como já se considerava o corpo: uma máquina. Outra doutrina proposta por Locke, relevante para a psicologia, é a noção de qualidades primárias e secundárias aplicada a ideias sensoriais simples. As qualidades primárias existem no objecto quer as percebamos ou não. O tamanho e a dimensão de um edifício são qualidades primárias, ao passo que a sua cor é uma qualidade secundária. A cor não é inerente ao objecto, mas depende da pessoa que a percebe. As qualidades secundárias — como a cor, o odor, o som e o gosto — não existem no objecto, mas na percepção que a pessoa tem dele. As cócegas provocadas por uma pena não estão na pena, mas em nossa reação a ela. A dor infligida por uma faca não está na faca, mas em nossa experiência da faca. Um experimento simples ilustra essa doutrina. Prepare três recipientes com água: um com água fria, um com água morna e um com água quente. Coloque uma das mãos na água fria e a outra na água quente; então, ponha ambas as mãos no recipiente com água morna. Uma das mãos vai perceber essa água como quente e a outra como fria. A água morna tem, é claro, uma só temperatura; ela não é quente e fria ao mesmo tempo. A qualidade secundária ou experiência do calor ou do frio só existe em nossa percepção, não no objecto (nesse caso, a água). Para reiterar, as qualidades secundárias existem apenas no acto da percepção. Se não mordermos um pêssego, o seu gosto não vai existir. As qualidades primárias, como o tamanho e a forma do pêssego, existem nele quer as percebamos ou não. Locke não foi o primeiro estudioso a distinguir entre qualidades primárias e secundárias. Galileu propusera essencialmente a mesma noção: “Creio que se os ouvidos, a língua e o nariz fossem removidos, as formas, os números e os movimentos [ primáriasi permanenceriam, mas não os odores, gostos e sons [ secundárias]. Estes últimos, acredito eu, não são senão nomes quando separados dos seres vivos” (Boas, 1961, p. 262). Essa posição é necessariamente coerente com a essência do mecanismo, e Locke admitiu isso quando observou que a distinção resultava de uma “pequena excursão à filosofia natural”. A visão mecanicista do universo sustentava que a matéria em movimento constituía a única realidade objectiva. Sendo a matéria tudo o que existe objectivamente, é lógico que a percepção de tudo o mais — cores, odores, sabores, etc. — seria subjectiva. Portanto, tudo o que pode existir independentemente do observador são as qualidades primárias. Ao estabelecer essa distinção, Locke reconhecia o carácter subjectivo de quase todas as nossas percepções do mundo, uma ideia que o intrigou e alimentou sua necessidade de compreender a mente e a experiência consciente. Ele introduziu as qualidades secundárias para tentar explicar a falta de correspondência precisa entre o mundo físico e a nossa percepção dele. Uma vez que os estudiosos aceitaram a distinção teórica entre qualidades primárias e secundárias — a ideia de que algumas existiam na realidade e outras somente na nossa percepção — era inevitável que alguém perguntasse se havia, afinal, alguma diferença real entre esses dois tipos de qualidades. Talvez toda a percepção ocorra em termos de qualidades secundárias, subjectivas e dependentes do observador. A pessoa que fez essa pergunta — e lhe deu uma resposta — foi George Berkeley. George Berkeley (1685-1 753). George Berkeley nasceu e foi educado na Irlanda. Homem profundamente religioso, foi ordenado diácono da Igreja Anglicana aos vinte e quatro anos de idade. Pouco depois, publicou duas obras filosóficas que iriam ter influência sobre a psicologia: An Fssay Towards a New llieoiy of Vislon (Ensaio para uma Nova Teoria da Visão) (1709) e A Treatise Concerning the Principies of Hwnan Knowledge (Tratado Acerca dos Princípios do Conhecimento Humano) (1710). Com esses dois livros, terminou a sua contribuição à psicologia. Fez muitas viagens pela Europa e ocupou alguns postos na Irlanda, incluindo o de professor no Trinity Coliege, de Dublin. Conseguiu a independência financeira ao receber uma significativa doação em dinheiro de uma mulher que ele conhecera numa festa. Visitou os Estados Unidos, tendo passado três anos em Newport, Rhode Island, e doou sua casa e biblioteca à Universidade Yale quando partiu. Nos últimos anos de sua vida foi bispo de Cloyne. Ao morrer, seu corpo foi deixado na cama, segundo as suas instruções, até começar a se decompor. Berkeley acreditava que a putrefação era o único indício seguro de morte, e não queria ser enterrado antes da hora. Berkeley concordava com Locke que todo conhecimento do mundo exterior vem da experiência, mas discordava da distinção lockeana entre qualidades primárias e secundárias. Ele dizia que não há qualidades primárias, mas somente o que Locke denominava qualidades secundárias. Para Berkeley, todo conhecimento era uma função da pessoa que percebe ou passa pela experiência. Anos depois, sua posição foi denominada mentalismo, para denotar a ênfase em fenómenos puramente mentais. Ele afirmava que a percepção é a única realidade de que podemos estar certos. Não nos é dado conhecer com certeza a natureza dos objectos físicos do mundo vivencial. Tudo o que sabemos é como percebemos esses objectos. Como está dentro de nós, sendo portanto subjectiva, a percepção não reflecte o mundo externo. Um objecto físico nada mais é que um acúmulo de sensações experimentadas conjuntamente, de modo que a força do hábito as associa entre si na mente. O mundo experimentado — o mundo que deriva da nossa experiência ou se baseia nela — é, ao ver de Berkeley, a soma das nossas sensações. Não existe, pois, nenhuma substância material sobre a qual possamos estar certos, porque, se retirarmos a percepção, a qualidade desaparece. Não pode haver cor sem a percepção da cor, nem forma ou movimento sem a percepção da forma ou do movimento. Berkeley não estava dizendo, contudo, que os objectos reais só existem no mundo material quando percebidos. Sua tese era: como toda experiência ocorre dentro de nós e é relativa á nossa percepção, nunca podemos conhecer com certeza a natureza física dos objectos. Contamos apenas com a percepção que temos deles. Ele reconhecia a existência de um certo grau de independência, de consistência e estabilidade nos objectos do mundo material, e tinha de descobrir alguma maneira de explicai isso. Ele o fez invocando Deus; afinal, Berkeley era bispo. Deus funcionava como urna espécie de ‘percebedor permanente” de todos os objectos do universo. Pode-se dizer que uma árvore na floresta existe e possui certas características, mesmo que não haja ninguém lá para percebe la, porque Deus a está sempre percebendo. Berkeley aplicou a teoria da associação para explicar o nosso conhecimento dos objectos do mundo real. Esse conhecimento é essencialmente urna construção ou composição de ideia simples ou elementos mentais unidos pelo cimento da associação. As ideias complexas são formadas mediante a conjugação de ideias simples recebidas através dos vários sentidos, como ele explicou no Ensaio para uma Nova Teoria da Visão: Sentado no meu gabínete, ouço uma carruagem descer a rua; olho pela janela vejo; vou para rua e entro na carruagem. Então, a linguagem comum inclinaria alguém a pensar que ouvi, vi a mesma coisa, a carruagem. É, não obstante, certo que as ideias introduzidas por sentidos são amplamente diferentes e distintas uma da outra; mas, tendo sido observadas em conjunto, são tratadas como se fossem uma só e a mesma coisa (Berkeley, 1709/1957. Para Berkeley, a ideia da carruagem é constituída a partir do som das suas rodas, sensação da sua estrutura, do cheiro do seu couro e da visão da sua forma de caixa. Constrói as ideias complexas conjugando as ideias simples que lhe servem como blocos básicos de construção. A analogia mecânica no uso das palavras construir e blocos de construção é coincidência. Berkeley também empregou a associação para explicar a percepção em profundidade. Ele examinou o problema da percepção na terceira dimensão — a profundidade — considerando o facto de o olho humano ter uma retina de apenas duas dimensões. Sua resposta foi que percebemos a profundidade como resultado da experiência, isto é, devido à repetida associação entre impressões vísuais e sensações de tato e movimento que ocorrem nos ajustes e acomodações feitos pelos olhos quando observamos objectos a distâncias diferentes, ou nos movimentos corporais que fazemos quando nos aproximamos ou nos afastamos dos objectos que vemos. Em outras palavras, as contínuas experiências sensoriais de caminhar na direcção dos objetos ou de alcançá-los, e as sensações advindas dos músculos oculares, se associam ou se ligam para produzir a percepção da profundidade. Quando um objecto é aproximado dos olhos, as pupilas convergem; essa convergência diminui quando o objecto é afastado. Logo, a percepção da profundidade não é uma experiência sensorial simples, mas uma associação de ideias que devem ser aprendidas. No caso, talvez pela primeira vez, um processo puramente psicológico foi explicado em termos da associação de sensações. Dessa maneira, Berkeley deu continuidade à crescente tendência associacionista no âmbito do empirismo. Sua explicação antecipava de modo preciso a moderna concepção da percepção da profundidade ao considerar as influências dos indícios fisiológicos de acomodação e convergência. David Huine (1711-1776) David Hume, filósofo e historiador, estudou Direito na Universidade de Edimburgo, na Escócia, mas não se graduou. Dedicou-se a uma carreira comercial, mas, como não a achou do seu agrado, viveu com sua pequena renda durante três anos de estudo autodidático no campo da filosofia na França. Mudou-se para a Inglaterra e escreveu A Treatise of Huínan Nature (Tratado sobre a Natureza Humana) (1739), seu trabalho de maior importância para a psicologia. Seguiram-se outros livros, e ele alcançou considerável fama como escritor, enquanto trabalhava como secretário, bibliotecário, juiz-advogado de uma expedição militar e tutor de um lunático de berço nobre. Ocupou também vários cargos governamentais e foi muito bem recebido na Europa. BIBLIOGRAFIA www.dr-anly.blogspot.com 1. BOCK, Ana Mercês Bahia. FURTADO , Adair. TEXEIRA, Maria de Lurdes Trassi(2008) .Psicologias, Uma Introdução ao estudo de Psicologia.14ª edição, Saraiva Editores, São Paulo. 2. CAPARRÓS, António.(s/d) História da Psicolgia, 1ª edição, Platano Edições Técnica. 3. DAVIDOFF, Linda,L.(2001) Introdução à Psicologia, 3ª edição.Editora Pearson Makron Books, São Paulo . 4. MUELLER F.L(1987) História da Psicolgia II: A Psicologia Contemporânea I, colecção a saber, 5ª edição , editora Europa/América . 5. MUELLER F.L(1976) História da Psicologia, da Antiguidade a Bergson I, 2ª edição , editora Europa/América. 6. PENNA, A.G..(1981) História das Idéias Psicológicas. Editora Zahar Rio de Janeiro 7. ROSENFELD, Anatol.(2006) O Pensamento Psicológico, Debates, 2ª edição, Editora Perspectiva S.A, São Paulo. 8. RUBINSTEIN, S.L.(1972) Princípios de Psicologia Geral. 2ª Edição Editorial Estampas. Lisboa. 9. WEITEN,WAYNE.(2012) Introdução à Psicologia: Temas e Variações. 4ª Edição. Editora Pioneira Thompson. São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário